sexta-feira, 15 de junho de 2007

Tragédia (anunciada) em três actos, mais uma cena... triste

1.º Acto – Porque o seu alinhamento está marcado para a hora de jantar, e porque cá em casa se cultiva o velho hábito de “enquanto se come não se fala”, assisti aos dois jogos já disputados pela Selecção Nacional de Sub-21, de futebol, no Europeu da categoria, que decorre na Holanda. Não gostei. E gostei ainda menos das “desculpas” apresentadas.
Os belgas têm na equipa 10 jogadores que já actuaram, pelo menos uma vez, na selecção principal do seu país; entrou-se mal no jogo e só na segunda parte se tentou mudar o rumo dos acontecimentos; quanto ao segundo jogo... os holandeses beneficiaram de um penalti duvidoso (como todos vimos na televisão, o derrube do avançado dos Países Baixos foi mais que evidente); que ficou por marcar um penalti contra os mesmos holandeses… as desculpas do costume.
Estamos habituados.
A verdade é que com um empate e uma derrota, as possibilidades de a Selecção Nacional passar aos quartos-de-final é, neste momento, pouco mais do que uma miragem. Até porque os israelitas venderam cara as derrotas com os mesmos adversários que Portugal defrontou.
Contudo, a entourage lusa na Holanda ainda guardava algumas surpresas.
É incrível a facilidade com que arranjamos justificações quando as coisas não correm bem. Assimir que não jogámos para ganhar... isso é que nunca!
Mas esta foi de “peso”. A necessitarem apenas de empatarem, Bélgica e Holanda estarão a fazer “panelinha” para deixar Portugal de fora dos “quartos”. Isto é, ainda antes de voltarem ao relvado e tentarem, pelo menos tentarem, mostrar o que realmente valem, os nossos jovens já vão acautelando o rol das desculpas com o qual nos brindarão mal se concretize aquilo que nenhum português quereria: o adeus prematuro à competição.
O curioso foi que Hugo Almeida – quem primeiro falou no assunto – veio dizer que o Manuel da Costa teria ouvido que belgas e holandeses iriam dar-se por contentes com o… 0-0.
Mas Hugo Almeida, meio titubeante, ainda acrescentou: “Foi ele que disse, eu não sei, ouvi dizer… não sei.”

2.º Acto – Ontem à noite pudemos assistir a um verdadeiro jogo de futebol, aquele que foi disputado entre Inglaterra e Itália. 2-2 foi o resultado final numa partida da qual as estatísticas nos deram o impressionante número de… 45 remates que levavam o caminho das balizas. Não foram pontapés para as núvens nem a rasar a bandeirola de canto. Iam bem encaminhadas para aqueles 7,32 metros entre os dois postes. Quatro entraram, outras foram defendidas pelos guarda-redes, ainda outras interceptadas por algum defensor.

45 remates à baliza (mesmo à baliza) dá um remate de… dois em dois minutos.
E o que aqueles jovens correram? E como correram.

Não à toa mas com um objectivo perfeitamente bem definido: atacar o último reduto adversário.
E quantas paragens contabilizámos?
Poucas, muito poucas.
Futebol… à inglesa. Mas os italianos não lhes ficaram a trás.
E, com o empate, a Itália corre o risco de não se apurar para a fase seguinte.
Apetece-me escrever aos responsáveis a pedir que não deixem os jovens italianos ficar de fora da prova. Em nome do (bom) futebol.

3.º Acto(Começa com música, um tema dos Rádio Macau…)
“… já tentei mandar pintar o céu em tons de azul
P’ra ser original
Só depois notei que azul já ele é
Houve alguém que teve ideia igual”

Isto porque levantei-me a pensar em escrever este artigo mas, ao folhear A BOLA, vi que o engenheiro José Lello já disto falava na sua crónica semanal. E escreve a maior parte das coisas que eu quereria escrever. A começar pelo título: “Diz que é uma espécie de equipa”.
Exactamente.
Mas escreve mais. “O que seria deste grupo [de jogadores] se, além de mostruário de luxo do futuro, também fosse uma equipa!”
Nem mais.
Somam-se, de facto, neste grupo, o número de “estrelas” e “estrelinhas”, mas cadê a equipa? Onde está o jogo colectivo? Alguém lhes disse que o futebol é para ser jogado colectivamente? Sim? Então que parte não terão entendido?
Eu acho que as duas. Nem jogam, nem são um colectivo.
E lá estamos nós (aqui é impossível ser original) outra vez agarrados à calculadora.

Pergunto-me é… para quê? Mas não ficarei surpreendido se no derradeiro desafio Portugal fizer o que não fez nos dois primeiros. Cumprindo-se esta previsão, lá virá a vitória moral – à qual, confessemos, já estávamos a ficar desabituados.
E quem é que diz ao seleccionador que nestas provas, com este figurino, é fundamental ganhar o primeiro jogo? Qual quê? Até li, antes do jogo, que “um empate com a Bélgica até pode ser um resultado positivo”!...
Quem foi que disse que jogando-se para o empate se corre o sério risco de se perder?

Sensata sentença.
Mas pronto! Preparemos a máquina de calcular.
Contudo, olhando para os “Critérios” de desempate cai-me o queixo e é com dificuldade que consigo voltar a fechar a boca.
Vejamos:
a) resultado do jogo entre ambos;
- Ok…
b) diferença de golos no jogo entre ambos;
- Esperem lá!... Se uma das equipas ganhou, está o caso resolvido. Se empataram… terão marcado os mesmos golos. Certo? Então?...
c) Número de golos marcados no jogo entre ambos;
- Mau!... sendo que, se a primeira alínea não desempatou, se passou então para a segunda, marcaram ou não os mesmos golos num resultado que teria que ser… um empate?
As outras alíneas já são coerentes, mas estas b) e c)… devem ser a tal pitada de comédia que há em todas as peças de tragédia.

A cena triste – Segundo o professor Rui Caçador, Portugal está a ser vítima dos “lobbies” nórdico e pan-germânicos. E com o senhor Marc Batta a nomear os árbitros… Portugal não tem hipóteses. Mas vai mais longe o prof. A equipa de arbitragem (os árbitro, sempre os árbitros) do Holanda-Portugal “não presta, não é séria nem competente”.
Ora aí está. E mais: “Estamos aqui no meio dos lobos…”
E termina o prof com mais uma revelação, terrível esta, e que pode ter decidido o afastamento da nossa Selecção dos quartos-de-final: “Depois há uma coisa terrível que são os blogs, alguns perfeitamente escabrosos, em que qualquer badameco nos pode insultar sem se identificar.”!
Antológica.
Os rapazinhos não correm, não jogam a bola e se calhar agora dá para entender.

Em vez de os estarem a treinar, os técnicos andam a ler… blogs.

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