sexta-feira, 29 de julho de 2011

Como Hipotecámos TUDO o que OS GRANDES JORNALISTAS DE DESPORTO se desunharam para que este 'nicho' da Classe fosse reconhecido como LEGÍTIMO

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Vou começar com uma pequena história que até pode ser verdadeira, mas que me foi contada como... anedota!

Algures, no gélido Alaska (EUA), aparece um jovem diplomado em Temperaturas e Ambiente para complementar um Estudo.

À sua espera, por deferência das autoridades locais, estava um Velho Indígena - leiam, por favor, natural da região; nascido, criado e... temperado - que o foi buscar ao Aeroporto num jipe. A viagem para o destino do Jovem Cientista ainda demoraria algumas horas, por estrada. E estava frio. Muito frio. Como sempre está no Alaska. Tanto frio que o aquecimento do jipe não ajudava grande coisa.

Então, o Velho Indígena tira do banco de trás do jipe duas peles de Búfalo. Coloca uma sobre as suas pernas e entrega a outra ao Jovem Especialista em Temperaturas e Ambiente.

Quando viu o Velho Indígena a colocar a pele, com os pelos para cima e o coiro sobre as pernas, e fazendo exactamente o contrário, o Jovem Especialista atirou:
- Porque não põe os pelos para baixo? sobre as pernas? Assim aquece mais!

De poucas falas, o Indígena apenas murmurou: "Pena que não tivessem avisado os Búfalos disso!"

...

Ora, serve isto de lançamento daquilo que aqui venho lamentar.

É preciso, porque os 'jovens' não sabem, revisitar a História.

Até ao glorioso dia 25 de Abril de 1974- terá, é evidente, demorado alguns meses - os homens, e as pouquíssimas mulheres, que escreviam para os jornais ditos Desportivos não tinham sequer o reconhecimento do Sindicato dos Jornalistas, que já andava um passinho à frente dos demais.

Escrever sobre jogos de futebol ou publicar notas de rodapé sobre as demais modalidades; fazer a cobertura, por exemplo, da Volta a Portugal em Ciclismo, não era reconhecido como TRABALHO JORNALÍSTICO.

Contudo, era-o feito, provavelmente, pelos melhores profissionais - que não eram reconhecidos como tal. Cândido de Oliveira, por exemplo - e já cheguei a A BOLA - passados todos estes anos ainda não foi ultrapassado como exemplo do MAIOR jornalista desportivo português de todos os tempos.

Era um Homem do Futebol. Pois era. E, ainda assim, continua a ser o MAIOR jornalista desportivo português de todos os tempos. Embora - o que é que os jovens jornalistas de agora sabem de, primeiro: desporto; depois de... futebol? O meu pai, com 74 anos alinha argumentos que a maioria dos meus jovens companheiros de profissão serão incapazes de desmontar.

A A BOLA, por muitos engulhos que crie nos responsáveis pelos outros títulos, a História não deixará que lhe seja sonegado o papel sócio-cultural que, à parte das crónicas dos jogos de futebol, mesmo ignobelmente perseguida pela doentia perseguição por parte da Censura do Estado Novo - ou não tivesse Cândido de Oliveira sido preso no Tarrafal; ou não seja o único Jornal português que esteve PROÍBIDO de 'sair' durante um mês, porque a Censura assim o decidiu - foi sempre, como não poderia deixar de o ter sido, 'dona' de si própria.

E, estão aí, nas mais diversas bibliotecas espalhadas pelo País, as suas históricas edições nas quais, a partir - foi o primeiro 'desportivo', pelo menos a fazê-lo - das reportagens escritas em terras estranhas, pelos seus enviados-especiais.

Contando, com os cuidados que eram recomendados - e estou a referir-me ainda ao período antes-do-25 de Abril de 74 - como se vivia na antiga URSS e noutros países para além da Cortina de Ferro. Como naqueles que, por exemplo, na América do Sul, eram dirigidas por mãos não menos complentativas que as do 'papão' vermelho. Para nós, aqui, na Europa.

E dei-me ao trabalho (que foi um prazer recordar) de falar em tudo isto por um simples facto.
O trabalho que o Semanário Sol hoje nos ofereceu sobre o treinador do Benfica, Jorge Jesus!

Comecei a ler A BOLA - peço desculpa por não ter nascido mais cedo - seis, sete anos antes do Glorioso 25 de Abril de 1974.

Ainda li muitas coisas. E, sem me atrever sequer a sonhar que um dia poderia integrar os seus quadros, 'consumi' de forma quase... 'dependente' (como se de uma 'droga' se tratasse) os escritos dos seus maiores Jornalistas.

Silva Resende, Vítor Santos, Homero Serpa, Carlos Pinhão, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha, Carlos Miranda, Joaquim Rita, Rui Santos - escrevo de memória e não respeitei cronologias; sinto que faltam alguns, mas não me levem a mal...

É pacífico, na História de A BOLA - pós-fundadores - que Carlos Pinhão foi o grande Mestre, para os que se lhe seguiram, e que Vítor Santos o grande pilar daquilo que A BOLA foi.

Sei que ainda não perceberam aonde quero chegar...
... à desgraça aonde chegámos. E não me excluio.

Incapazes de responder à concorrência - e isso, com Cândido de Oliveira ou com Vítor Santos - não teria acontecido, ficámos iguais aos outros.
Baixámos de nível.
Não foram eles que subiram, fomos nós que baixámos.

Inventamos interesses em jogadores, avançamos com oníricas contratações... que jamais se concretizam, calamo-nos por subserviência, pela mesma subserviência assumimo-nos como arautos, perdendo credibilidade...

E notícias?
Vítor Santos - vocês nem sabem o que eu sei - levou ao desespero a maioria da sua redacção.
Tinham uma NOTÍCIA, sabiam-na de fonte segura mas...
Dizia o Vítor Santos: 'Isso está confirmado? Não? Então A BOLA não publica! A BOLA não verá uma notícia sua ser desmentida.'

Hoje ninguém se preocupa com isso. Fazem todos o mesmo. Pior... à invenção de uns, os outros respondem com invenções próprias. Cientes que à primeira - aconteça ela quando acontecer, e será dada por todos - real, ninguém mais vai lembrar-se dos exercícios de diversão.

E no que é que nos tornámos nós, Jornalistas Desportivos? 'Pés de microfone', 'caixas de ressonância', 'rapazes que levam recados'...

Com contactos privilegiados com as estruturas dos clubes, mas sem capacidade para um simples 'golpe de asa'. E eu sei porquê... porque nos tornámos reféns dessas mesmas estruturas.

Senão, como explicar que o Semamário SOL tenha hoje feito a mais interessante entrevista a Jorge Jesus desde que ele é técnico do Benfica?
É esse o motivo desta crónica.
E, em O SOL está bem expresso... foram os únicos autorizados a estarem presentes num treino... FECHADO para fazerem a reportagem.

Olha como é BOM NÃO ESTAR REFÉM DO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DO CLUBE!
Todos amigos, claro...
... mas primeiros censores. E assim voltámos ao passado. Mesmo sem lápis azul.