segunda-feira, 25 de junho de 2007

Fundamentalismos... NÃO!...

Volta não volta, o assunto volta a ser notícia.

Falo da Lei do Tabaco.

Tudo bem, sou – todos o sabem – fumador. Não sei se é difícil ou não deixar de fumar, porque nunca o tentei. Preciso de um cigarro, de vez em quando. OK, de muitos cigarros, se somados ao fim do dia. Faz mal? Claro que faz. Eu sei. Já o sabia muito antes de, por Lei, os maços que compro terem bem escarrapachado que fumar mata.

O grande escritor, poeta, ensaísta… Manuel da Fonseca, alentejano de Santiago do Cacém, com aquele estranho humor que caracteriza os alentejanos, disse um dia: «Isto de estar vivo, um dia ainda acaba mal!»

Mata o tabaco, mata o conduzir sem o mínimo respeito pela vida (a própria e a dos outros), mata… a fome. Nomeadamente nos países menos desenvolvidos. Principalmente em África. E se cada um dos cidadãos, de “remediados” para cima, desse CINCO CÊNTIMOS DE EURO (ou DÓLAR) por ano, aquela gente podia, mesmo que nas condições péssimas em que vivem, VIVER.

Enquanto em meio Mundo se morre de fome, o outro meio Mundo manda comida para o lixo. Sem remorsos. Apaparica cachorros e gatinhos com latas de comida que custam o mesmo que 50 pacotes de arroz. Exactamente, porque é barato e nutritivo, o alimento que ainda se vai arranjando para tentar mitigar a fome aos MILHÕES que crianças que choram porque não têm que comer.

Mesmo não apoiado em nenhum “estudo estatístico” tenho a consciência de que, no tempo que levar a escrever este artigo morrerão centenas… CENTENAS de crianças.

Com fome.

Duas notas intermédias:
Não tenho nada contra os animais de estimação. Eu próprio já tive um cão e quase uma dúzia de gatos, à vez. E agora que a minha irmã foi de férias, até fiquei de “baby-sitter” do peixinho vermelho da minha sobrinha.
A segunda é que façam uma Lei que ponha o maço de cigarros a 10 euros. Com a garantia de que os 6,85 euros que eu pagaria a mais iam direitinhos para um programa global de luta contra a fome no Mundo.

Eu não ia deixar de fumar.

Voltando atrás. É – isto é – das estatísticas que em Portugal, depois dos AVC e problemas cardíacos, o terceiro motivo de morte são os acidentes rodoviários.
Gostava – a sério que gostava – de ver afixado, na devida proporção, nas escolas de condução e nos próprios automóveis à venda letreiros a avisarem que CONDUZIR MATA.

E mata. Muito.

Deixemos estes… entretantos, e passemos aos finalmentes.

Fumar é uma opção. Que cada um assume. Tem esse direito.
Que o fumo incomoda terceiros… nem discuto por isso acato as regras locais. Não se pode fumar em locais que TODA a gente TEM que frequentar, nomeadamente, transportes e serviços públicos, local de trabalho... Ok, não discuto.
Nas eu também gostava que outros items fossem considerados. Por exemplo, interditar a entrada a quem, evidentemente – para quem não está constipado – não toma um banho diário; para quem, não o tomando, tenta disfarçá-lo com o reforço de enjoativos perfumes que me incomodam. Com quem sofre de incontinência verbal...

Nestes últimos meses tenho sido “cliente” assíduo de hospitais e centros de saúde e, garanto-vos, saio de lá mais “amachucado” do que entrei porque NINGUÉM se cala. E fala alto, e resmunga se alguém pede um pouco de silêncio.

Tanto terreno onde se podia exercer o irreprimível instito da proibição.

Agora volto à Lei.
Não somos originais. Claro que não. Aliás, seguimos - como cachorro desprovido de amor-próprio, que é aquele a quem o dono bate, mas não deixa de ser capaz de abanar o rabito quando dele se aproxima - regras “sopradas” do estrangeiro.

Mas há regras e regras.

É deliciosa a crónica do meu Director, Vítor Serpa, n’A BOLA de Sábado.
Não podemos comer o azeite serviço em galheteiros; o bacalhau não pode ficar a demolhar, exposto ao ar (teria de ser congelado), não se pode beber o (bom) vinho servido a jarro e, segundo ele, até o bife à cortador, com um ovo a “cavalo” foge às regras emanadas de Bruxelas.
E conclui: «Os belgas, que comem mexilhões com batatas fritas, é que vêm explicar-me como se come?»

Não fugi ao assunto, apenas o abri o leque.
Voltemos então ao tabaco.

Não discuto sequer a liberdade de cada um dos não fumadores em se recusarem a repartir um mesmo espaço com os “viciados”, como eu… mas calma aí.

Não queiram transformar tudo em TERRITÓRIO SEU!

Eu sei que, nos dias de hoje, por necessidade, não o nego, mas também muito por statuos – ou então não via tantos carros cobertos por capas protectoras onze meses por ano, a ocuparem espaço na via pública – toda a gente em o seu pó-pó. Toda a gente não, que eu não sou o único que nem carta de condução tem.

E incomoda-me o “ron-ron” do carro do meu vizinho que precisa de dez minutos de “aquecimento” antes de se por a andar. Incomoda-me a buzinadela, porque a senhora não há meio de descer. Para não falar que, entre o escape do seu carro e o fumo dos meus cigarros, a poluição nem é mesurável.

Mas vamos lá então ao que realmente eu queria dizer.
Proíbir os fumadores de frequentar restaurantes. Obrigar os seus proprietários a declararem espaço sem fumo as casas sobre as quais são eles quem paga impostos.

Como sempre vamos atrasados. E negamos as evidências.
Aqui ao lado, em Espanha, a Lei dá aos proprietários dos restaurantes e espaços equivalentes, a possibilidade de declararem, ou não, os seus estabelecimentos livres do fumo do tabaco.
O que é que vêem de mal nisto?
Mais, a Lei, em Espanha, está em vigor há um ano e, pelo menos daquilo que tenho lido, pouco ou nada mudou. A não ser o facto de a esmagadora maioria dos estabelecimentos, aos autocolantes publicitários terem acrescentado: “Aqui pode-se fumar.”

A esmagadora maioria.

É uma decisão que só cabe ao proprietário. Ele é que sabe se, proibindo os fumadores de entrarem mantêm o mesmo nível de lucros, ou se os não fumadores não têm – dentro do universo da sua clientela habitual – mais peso.

E decidem em conformidade.

Em Portugal – embora a Lei tenha recuado – o que se pretendia era declarar completamente “fora-da-lei” os fumadores. Daqui a pouco, e como eu digo, a brincar – mas atenção ao meu humor alentejano –, estava a ver-me acocorado atrás de um carro, atrás de uma esquina, a fumar. Coisa a que nem sequer é obrigado um vulgar drogado, que ainda há locais onde as seringas circulam de braço em braço, à vista de toda a gente. Mais, as multas de que já se falou, seriam mais onerosas para quem fosse apanhado a fumar do que para quem fosse "flagrado" a drogar-se!

E não nos queiram colocar no mesmo patamar dos drogados.

Não, não aceito seja que argumento fôr.

Já nem falo nos impostos que, indirectamente, pago a mais que os não fumadores. Digo é que o exemplo de Espanha é lógico. «Aqui pode-se fumar.»

Quem não quiser não entra. Ninguém os obriga.

Porque é que eu tenho que ir para a rua ou ficar em casa para puder fumar, e os outros não podem ficar em casa a tomar café? Há máquinas no mercado que “tiram” bicas tão boas como as industriais.

Em espaços onde só vai quem quer ir – porque a isso não são obrigados – que deixem os proprietários terem a última palavra.
Eu, se tivesse um espaço de restauração, entre 100 bebedores de café, mais o copo de água, da torneira, para não gastarem mais dinheiro, e 25 bebedores de imperiais, mas que, entre cada uma e dois dedos de conversa fumam cinco cigarros, nem sequer tinha dúvidas.

E há-de haver sempre proprietários que, por convicção própria, hão-de declarar os seus espaços livres de fumo. Estão no seu direito. Os não fumadores que os procurem.

Aquela máxima de que “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro” é válida para os dois lados. Tem que ser. A bem da liberdade de todos.

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