sábado, 16 de junho de 2007

Em Quem Acreditar?

Enquanto leitor de jornais – antes disso, enquanto cidadão que não abdica do seu direito, consagrado na Constituição de Portugal, à informação – vejo-me numa encruzilhada onde não é fácil escolher o caminho certo.

Nos últimos anos, que já se alargam à última década (pelo menos), as empresas de Comunicação Social, num gesto, que até pode ser positivamente encarado como de sobrevivência, optaram, primeiro, pela redução dos seus quadros; depois, e aqui fala a consciência do cidadão, pelo preenchimento das vagas que, inapelavelmente, ficaram em aberto, com, ou jovens oriundos das sucessivas fornadas de formados pelas Universidades, ou por antigos profissionais “apanhados” exactamente pela tal necessidade de redução de quadros.

No primeiro caso, e na melhor das hipóteses, reforçam – ainda que temporariamente (sempre temporariamente, que o objectivo não mais deixará de ser o da redução dos quadros fixos) – as redacções com uma leva de profissionais a quem está vedado o direito à contestação.

Quando vemos na televisão – o que nos últimos tempos até vem a ser mais ou menos regular – reportagens sobre portugueses que vão ao “engano” trabalhar para o estrangeiro e lá se vêem obrigados a trabalhar de dez a doze horas sem ganharem mais por isso, sem terem tempo para comer e, o pior de tudo, sem terem sequer dinheiro para poderem, primeiro, comer melhor, segundo… mandarem tudo às malvas e regressarem a casa, eu, enquanto cidadão, fecho os olhos e vejo exactamente esta situação como se descrevesse a maioria das redacções das empresas de Comunicação Social… em Portugal.

O que já foi chamado de “quarto poder” hoje não passa de uma caricatura.

Empenhados com compromissos inqualificáveis, “vendidos”, no mais negativo que a expressão tem, aos interesses vigentes e, se a verdade fosse um sexo, perfeitamente assexuados. É a imagem que de repente me vem à cabeça.

Cumpre-se um a agenda ditada por assessores, no caso da política, ou pela nova versão dos velhos “caciques”, no que respeita ao resto.

Felizmente, o meu mal não me roubou capacidade intelectual.

Ainda existo, logo… penso.
É! De facto é a inversão de tudo o que anteriormente aprendemos.

Consumidor compulsivo de jornais, não estou em nada surpreendido com a volta que o mundo da Imprensa levou. Mais ou menos ileterado, o povo nunca deixou de ter razão. Por isso nos últimos anos os jornais chamados “populares” ganharam terreno aos chamados de “referência”.
Ao menos, quando um “24 Horas” ou um “Correio da Manhã” nos enfiam olhos dentro estórias de assassinatos à sacholada, ou crimes passionais… não estão a inventar. Aconteceram mesmo. Trazem fotos de gente com lágrimas; trazem fotos de gente irada… mas aquela gente estava mesmo a chorar e estava mesmo revoltada com os seus pequenos dramas.

Pequeninos à escala nacional, mas dramas.

E os jornais chamados de “referência” viram as suas vendas baixarem em queda livre. Porquê? Porque o povão – sem que esta palavra a use com o propósito depreciativo – não quer mais saber das histórias e estórias congeminadas nos corredores da política. Porque não acredita nos políticos e… é a reflexão que falta fazer, deixou de acreditar nos jornalistas.

Essa do quarto poder… já era!

E acabou quando acabou o real poder dos jornalistas. Porque já o tivemos. E foi exercido e, que se saiba, na maioria das vezes em favor da comunidade. Fez cair políticos, fez mudar políticas… destruiu regimes. Sempre com proveitos tangíveis para a comunidade.

Havia um velho mote que dizia: “se os não podes vencer junta-te a eles”.
Nas últimas décadas isso – também isso – foi adulterado para um bem mais prático: se os não podes vencer… compra-os.

Mas não foram os jornalistas que foram comprados. Também não era preciso.
Compraram-se as empresas e, de um momento para o outro, os verdadeiros jornalistas ficaram sem espaço de manobra. Internamente, em cada empresa, promoveram-se “testas de ferro” que, como cachorros domésticos, alegremente pulam, saltam e vão a correr buscar o osso de plástico que o dono lhes atira para o fundo da sala. E, na volta, ficam sentados a dar ao rabo à espera que lhe atirem o brinquedo outra vez.

Para outra vez o irem buscar.
Tudo por uma festa no lombo.
Talvez um ossito de verdade.
De vez em quando.

Quem não entrar neste jogo não tem hipóteses.

“Não me divertes, não levas prémio…”
O pior é que a esmagadora maioria o não percebe.

Não no sentido de entrar no desditoso jogo, mas que se recuse a ser o joguete do(s) poder(es) instituídos e lute para manter a sua própria dignidade.

O argumento é arrasador.
Não vale a pena lutarmos porque, seja lá como for, o Jornal sai na mesma.
É verdade.

Entretanto, e com esta regressão que aconteceu a nível das redacções, aquilo que foi uma figura – de prestígio, sim senhor – nos anos áureos da imprensa, acabou também por cair na mais suja das lamas. Salvaguardando aqui, como é óbvio, as justas excepções.
Falo dos colaboradores.

No início, os jornais tinham um quadro de redactores fixos exíguo, incapaz, textualmente, de cobrir todos os eventos desportivos. E, quanto mais eclético o jornal se queria, mais necessidade teve de recorrer a colaboradores.

Começou por ser gente acima de quaisquer suspeita. Eram MESMO especialistas. Seccionistas, técnicos, até praticantes de modalidades que, em defesa da própria credibilidade do seu nome, escreviam com a mais insuspeita das honestidades.

Houve grandes jornalistas, colaboradores de grandes jornais que, mesmo sem terem o título profissional o foram muito mais do que alguns dos que o tinham.
Tudo mudou.

Uma das “anedotas” mais correntes nos corredores das redacções é aquela do colaborador que, porque ganhava “à peça”, hoje enviava uma notícia, tão relevante que merecia a sua publicação, para no dia seguinte escrever o seu desmentido. Como os jornais ainda davam algum valor à credibilidade… tinham de publicar e, assim, o colaborador somava dois artigos pagáveis.

Mas, entretanto, entrou-se por outros caminhos.
Com redacções, e na maioria dos casos, enfeudadas ao futebol – porque é a única coisa de que qualquer cidadão percebe e por isso manda “bitaites” – e perfeitamente “analfabetas” no que respeita às restantes modalidades, um colaborador mais esperto pode fazer “render o peixe”.
Descomplicando: pode, à revelia de quem manda, gerir informações e timmings.

E pode fazer-se passar por peça muito mais influente do que aquilo que realmente é.
O que é que há de pernicioso nisto?
É que a verdadeira razão de ser dos jornais, que são os seus leitores, passa para segundo lugar.
E, em alguns casos, esses colaboradores tornam-se peças mais influentes que as próprias chefias das quais, organizacionalmente, estariam dependentes.
Claro que a culpa é destas.


Mas aqui voltamos ao princípio deste “sem-fim” que ameaça misturar tudo.
Quem sabe e quem não sabe, quem é bom e quem é mau, quem merece estar e quem está por “elevados favores” a quem precisa de estar.
E de repente dou comigo capaz de bater a cabeça contra a parede.

Será que o meu velho pai, de setenta anos, tem razão?
Os jornalistas serão mesmo aldrabrões?
Pelo sim, pelo não… há situações em que me abstenho de puxar o assunto à conversa…

Sem comentários: