terça-feira, 16 de outubro de 2007

Quem Percebeu a Mensagem?

Não sei quantos, dos muitos milhares – o número ultrapassará, largamente, o milhão – dos habituais espectadores do Telejornal da RTP1 identificaram ontem a sublime mensagem deixada pelo (creio que ainda) Director de Informação do Canal Público, antes disso – no sentido de mais importante do que isso – um Jornalista respeitável e respeitado, que nas últimas semanas se viu envolvido num caso que, infelizmente, é só mais um dos muitos que nos últimos meses nos foi oferecido por um mui sui generis governo Socialista no qual não se pode dizer que o PM se intitulou, indevidamente, como engenheiro (que não é), onde ciosos subordinados, à boa maneira dos velhos bufos de má memória – que, com o somatório de casos, já nos leva a pensar antes dizer qualquer coisa, se perto está alguém que não conhecemos -, correm a denunciar… uma piada que seja.

Um governo que controla (ou quer controlar) eventuais manifestações sindicais anti-sistema. Um governo que não admite poder interferir, via administração a ele subordinada, de forma a “controlar” o Departamento de Informação do mais poderoso meio de CS do País. A RTP. Mas a verdade, e essa é inegável, é que passando por cima – logo esvaziando-a nas suas competências – da Direcção de Informação, a administração do Canal Público conseguiu colocar num ponto-chave, na rede de correspondentes uma jornalista sexta classificada num concurso interno para o lugar que ia ficar vago em Madrid.

A verdade é que, após uma entrevista do Director de Informação, e no próprio dia em que essa entrevista saiu – entrevista onde se leu que não estava afastada a hipótese de haver influências directas da Teixeira Gomes sobre a administração da empresa, no sentido de “controlar” a Informação, este já não apresentou o Telejornal, o que só voltou a acontecer este fim-de-semana.

Pois!...
Yo no creo en brujas, pelo que las hay, hay…

Mas o que é que eu vi há pouco, e me pergunto quantos mais terão percebido a mensagem?

O Telejornal fechou com a notícia da passagem dos 25 anos sobre a morte de Adriano Correia de Oliveira, talvez o mais puro, o mais “engajado” e interveniente dos chamados Cantores de Intervenção [política].
Umas das vozes mais ouvidas, desde os finais dos anos 60 até 1982, quando morreu, inesperadamente. Com apenas 40 anos.

Com a música em fundo, o Jornalista despediu-se com o habitual “até amanhã” e um – que até nem foi original [fá-lo muitas vezes] – discreto piscar de olho.
A música em fundo… que depois foi “puxada” a primeiro plano, na interpretação original de Adriano Correia de Oliveira antes de passar para a versão numa voz feminina que inclui o disco de homenagem aos 25 anos sobre a morte do saudoso cantautor era, nem mais nem menos, entre tantas que podia ter sido, a “Trova do Tempo que passa”, de Manuel Alegre, que tem quatro dos versos mais emblemáticos da resistência ao regime de antes de 1974: “Mesmo na noite mais triste; em tempo de servidão; há sempre alguém que resiste… há sempre alguém que diz não.”

Já agora, e como homenagem a Adriano Correia de Oliveira, que morreu, subitamente, há 25 anos, com apenas 40 anos de idade, deixo o poema completo de Manuel Alegre, que ele (Adriano) musicou e cantou, transformando-o numa autêntica “bandeira”.

TROVA DO VENTO QUE PASSA
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

domingo, 14 de outubro de 2007

E nós, Sociedade Civil… Que Fazemos?

Li, entre o último fim-de-semana e este, a entrevista que Catalina Pestana deu à revista Tabu, do semanário Sol. Não levei oito dias para ler a entrevista, esta é que foi dividida em duas partes, publicadas nos dois últimos números.

Se fiquei chocado? Não…
O pouco que sei sobre o “caso” Casa Pia e a opinião que já tinha formada, não foram em nada abalados. Antes pelo contrário…

… fiquei foi, inesperadamente abalado!
Então… a ex-provedora da Casa Pia – a que teve de segurar o barco quando este parecia ir ao fundo – vem confirmar denúncias que já antes fizera, insiste em nomes (diz que sabe de muitos mais mas, porque os crimes terão prescritos, recusa-se a atirá-los no ar só por atirar), confirma, para quem quiser ler, que um ex-governante (socialista) que chegou a ser preso mas depois foi posto à solta, é mesmo culpado – e anda por aí… – e não há um Juiz a quem a consciência mande fazer justiça.

Fixei uma frase de Catalina Pestana – que, evidentemente, foi alvo de várias queixas de… “puros inocentes” que produziram outros tantos processos – diz que não tem medo de ir a julgamento. Mas adianta, cito: “Prefiro mil vezes um juíz severo a um juíz medroso. Não há coisa pior para a Justiça do que um juíz medroso”.

As declarações de Catalina Pestana parecem-me credíveis. Algo naquela figura de avó me inspira confiança, e ela estica a corda e aponta o dedo a forças (muito) poderosas, como a Maçonaria. “… não é uma associação de malfeitores, mas tem um defeito tenebroso: os seus elementos protegem-se uns aos outros.”

Vem-me à cabeça um nome. O do juíz espanhol Baltazar Garzón.

Que assumiu, numa luta quase pessoal, a “guerra” ao terrorismo em Espanha.
Traz-me de volta uma velha série de TV, o Polvo, na qual, é também um juíz, praticamente sozinho, quem faz frente à máfia…

Há, nesta longa entrevista, dados que, ao longo dos últimos meses (anos) nos foram sonegados. Alguns, mais do que um, dos rapazes que testemunharam e que, já foram eliminados. Sem eufemismos, mortos.
Overdoses, acidentes… incidentes que, desligados do “caso” Casa Pia são apenas números, estatísticas.
Mas onde ela encontra ligações.

Admirei a coragem da senhora. E adivinho que ela sabe que corre riscos.
Sabe o nome de muita gente implicada. Não de “gente”, mas de gente importante.

Revela que os nomes estão compilados e foram entregues a quem lhe sobreviva de forma a que, daqui a 25 anos – quando o caso já não existir em concreto porque há prazos (que eu diria quase criminosos, em si mesmo) – se publiquem, se revelem então TODOS os nomes.

E sublinha-se a vergonhosa “emenda” acrescentada ao Código Penal, aprovada na Assembleia da República com os votos favoráveis do… Partido Socialista e do PSD! Crimes com igual enquadramento – descodificando, o mesmo crime perpetrado em continuado sobre a mesma pessoas – contam apenas como… UM crime.

Como não se pode matar “várias vezes” a mesma pessoa… sobra o quê?

Assaltos continuados ao mesmo banco?
Ou violação continuada sobre menores? Sendo que esta hipóteses é a mais macabra…
Não parece que é uma Lei feita à medida! É uma Lei feita à medida.

Catalina Pestana está agora envolvida num movimento de Cidadãos que, àparte dos sistemas judicial ou governamental, que não deixe morrer o “caso” Casa Pia.

Mas volto quase ao princípio.
O que é que está a emperrar a Justiça?
E só o facto de admitirmos que a Justiça está a ser… emperrada, é terrivelmente penalizador do nosso sistema judicial.

E porque é que a CS ignora isto?
Porquê? Porquê?

Mas há mais, Catalina Pestana garante que continuam a acontecer os mesmos casos na mesma instituição.
Quem, que coisa, que monstro está por trás de tudo isto que se acha tão inatingível que se ria da Justiça?

E onde é que está a resposta da Justiça?
Que Justiça?
Que País somos nós?
Em que país é que eu vivo?

As crianças que vão para a Casa Pia já são desprotegidos pelo destino.
Será sina delas continuarem desprotegidas para toda a vida?
E qual é o nosso – dos Cidadãos – papel?
Ficar a ver de longe?
Ignorar porque um dia optámos por um partido político e – aparentemente – é dentro desse mesmo que há mais desvios… ao aceite como normal?

Catalina Pestana fala, com amargura, do caso do tal dirigente socialista que chegou a estar preso, mas acabou por ser solto… e fala de tal forma que ninguém ficará com mais um pingo de dúvida. Aquele homem está envolvido.
E está aí… à solta, com uma vida… “normal”…

Que raio de país é este? E não estou a falar da não aceitação da candidatura de uma estação de rádio local. Estou a falar de seres humanos.

E se o prof. Marcelo ignora esta entrevista… já não sei quem poderá, abertamente, forçar a reabertura da discussão pública sobre o caso.

Daqui a 25 anos também eu já cá não estarei.
Quem seriam os velhinhos… devidamente acompanhados pelos seus delfins, que iam à Casa Pia escolher, como se de animais se tratassem, os miúdos que usariam, ou de quem se deixariam utilizar, para perversas práticas que me arrastam ao vómito.

Será que vamos mesmo ter que esperar… 25 anos?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Hasta Siempre, Comandante!...

Passaram hoje 40 anos sobre o fuzilamento, por parte de um exército fantoche da Bolívia, que era, de facto, formado por operacionais da estadunidense CIA, de Ernesto Guevara. "Che", para a porterioridade.

Filho de um família da classe média - que cursou e tirou o curso de medicina - Che apaixonou-se pelo ideal de um Mundo onde, se as diferenças de classe fossem esbatida, seria um Mundo melhor.

Com Fidel Castro derrubou o governo do torcionário Fulgêncio Baptista, implementando o regime que, ainda hoje, vinga em Cuba. Foi ministro de vários ministérios, teve muito poder nas mãos, mas não era isso o que ambicionava.

Um dia, deixou Cuba para ir para África, envolvendo-se em mais uma batalha em prol da igualdade entre seres humanos, todos nascidos da mesma maneira, iguais, portanto.

Mas não ficou poa aí. Voltou à sua América - era argentino de nascimento - para, outra vez, se envolver noutras batalhas.

Na Bolívia, em Outubro de 1967 foi capturado pelas forças que operavam sob o comando dos Estados Unidos.

Conta a história que, perante o pelotão de fuzilamento bradou com raiva:
"Atirem, cobardes,
vocês vão matar apenas um homem!"

Errado.

Perpectuaram a imagem de um herói.
Um herói que foi símbolo para uma certa juventude de há 25 anos atrás.
Também eu tenho uma réplica da mais famosa foto do Mundo.

Em relação ao resto... ainda há dois ou três dias vi um documentário na televisão sobre a Cuba actual.

A Cuba onde grassa a pobreza, onde os cubanos não se podem aproximar das cosmopolitas praias como Varadero... Que enchem de dólares o governo porque os que "deus nos acuda, Fidel é um bárbaro"... INCLUÍNDO DEZENAS DE MILHAR DE PORTUGUESES... vão gastá-los lá! Sem o mínimo de pudor ou coerência.

(Podiam ir para a Caparica e ajudar a levantar os molhes que evitarão que as praias desapareçam...)

Cuba onde do pré-primário ao fim do curso universitário o ensino é gratuito.
E onde entram os melhores, sem olhar a classes sociais.

Cuba, onde, nos últimos meses, dezenas de portugueses têm ido para serem medicamente tratados... gratuitamente.

Não têm condomínios privados, com segurança electrónica a guardar a casinha que vão pagar até aos 125 anos... ou, se morrerem antes, alguém terá que assumir a dívida; não têm carros de marca, não têm dois carros por família.

Não os deixam ver as telenovelas brasileiras nem as séries americanas... as refeições são o mínimo essencial.

Mas onde, por exemplo, a educação e a saúde são gratuítas.

Deixemos os novos-ricos das periferias de Lisboa e do Porto estrebucharem.
Perguntem aos abandonados pela sorte, ditada por este Partido Socialista, se não gostavam que os filhos tivessem ensino gratuíto até ao fim do curso niversitário, ou se os velhos pais tivesses assistência médica a troco de nada...
Perguntem...
Porque couve com batatas JÁ É A ÚNICA COISA QUE PODEM COMER...

Se um dia, de cima, não do Estado, mas de quem MANDA no estado, que são os grandes grupos financeiros, vier a ordem para que todas as dívidas de todos os cidadãos, sejam pagas em 24 horas... ficaremos com os condomínios video-vigilados entregues aos ratos e, passados dois, três anos... não haverá diferenças em relação a Cuba.

A não ser aquelas.
A escola lá é gratuíta; a saúde lá é gratuíta...
As casas são muito pobrezinhas, mas todos têm a sua.

Não seria este, no seu todo, o ideal de Che Guevara, mas ele deixou mais do que provado que não era homem para gabinetes e para os zigues-zagues da política.

Acreditava num ideal. Lutou por ele.
Morreu por ele.
Faz hoje 40 anos.
Hasta Siempre Comandante!