quinta-feira, 19 de junho de 2008

Obrigado Senhor Luís Felipe Scolari

Começou há três minutos o jogo dos quartos-de-final do Europeu dos Alpes.
Faço questão de escrever este artigo antes do final do “mata-mata” que hoje teve início; a partir de hoje, quem perder vai para casa. Já só estão oito selecções em prova. Portugal é uma delas e está nesta fase de Campeonatos da Europa e do Mundo pela quarta vez. Desde que Luís Felipe Scolari tomou conta da Equipa de Todos Nós.

Sou, confessamente, pró-Scolari.
Sei que custou ao erário público muito dinheiro, mas para além de o não invejar, sou capaz de cometer o “sacrilégio” de escrever que mereceu todos os cêntimos que ganhou.

Primeiro, fez jus ao seu apelido (apelido, em português do Brasil é o mesmo que alcunha, no português da Europa): Sargentão.


Quando se é contratado, quando se é nomeado para mandar, quem não quer ver-se fragilizado tem que mandar. Abaixo dele, mas também acima. Ele não pediu para ser o Seleccionador. Não deve favores a ninguém.

Antes que avance o cronómetro neste jogo quero deixar a minha opinião. Aqui a pouco mais de hora duas horas, Portugal pode estar de malas aviadas de regresso.

Se isso acontecer, adivinho que os muitos que foram “obrigados” a “engolir” a forma de ser de Felipe Scolari aparecerão a destilar todo o veneno guardado ao longo destes últimos anos. Não têm razão.

E a prova é que, nestes últimos anos o futebol português galgou degraus, guindou-se a patamares nunca antes alcançados graças… à Selecção.
Mesmo jogadores individuais cresceram, muito, graças à presença assídua na Selecção.

Sou directo: não há no mercado nenhum treinador capaz de substituir Scolari e vale-nos o facto de os “padrinhos” da Máfia interna estarem neste momento tão preocupados em salvar os seus anéis que, provavelmente, não vão ter tempo para se imiscuir na escolha do próximo técnico.

Espero, sinceramente espero, estar a “ler” correctamente a actual conjuntura do futebol português porque não confio nem um pouco no senhor Madaíl, este sim, um exemplo típico do português, no genérico: inseguro, sem capacidade de decisão, sem espinha dorsal; pronto para qualquer exercício de contorcionismo desde que… preserve o seu “tachinho”.

Jamais teremos um seleccionador como Luís Felipe Scolari.
É que até pode surgir um outro, até português, que seja capaz de se mostrar líder indiscutível, mas estará sempre em desvantagem em relação ao brasileiro. Primeiro, porque acima dele haverá inevitavelmente quem vai achar que pode ganhar um espaçozinho um pouco mais mediático. E fazer merda, ou dizer baboseiras, para o conseguir.

Ø A Alemanha acaba de marcar o primeiro golo…

Espaço que Scolari pura e simplesmente blindou. Não fora as constantes nuances nos tons da cor com que Madaíl pinta o cabelo, e quase teria passado despercebido.

Depois, nem o “bobo-mor” da corte, o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa – homem inteligentíssimo – se arriscou por aí além a imiscuir-se no trabalho de Scolari.

Ainda falta uma hora e dez minutos para terminar esta partida, estamos a perder. Se perdermos… é o adeus de Portugal. O adeus de Scolari.

E eu tinha que deixar aqui, antes que isso aconteça, a minha posição.
Sorte Portugal!

PS: A quem teve a "coragem" de "exigir" que Scolari pedisse públicas desculpas a Vítor Baía e a Maniche... deixo um desafio: que tenha a coragem de exigir que o FC Porto peça desculpas a Fernando Gomes (o bi-bota d'ouro), e também a Vítor Baía, que não foi Campeão do Mundo de sub-20 porque o clube não deixou.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Como Uma Mentira se Transforma Em Verdade

Toda a gente sabe do velho dito Uma Mentira Repetida Até À Exaustação, Acabará Por Ser Aceite Como Verdade.

Estamos a assistir a isso sem que, aparentemente, ninguém se tenha apercebido do que se está a passar. Pior do que isso, quem tem como missão Informar, certamente por não estar minimamente preparado para o fazer – e esta seria a explicação mais… aceitável -, está a contribuir para fazer passar uma mensagem de todo falaciosa.

E tudo começa numa coisa tão simples quanto isto: qual é a diferença entre uma Greve – instrumento ao serviço dos trabalhadores, previsto e aceite pela Constituição Portuguesa - e um LockOut, manobra utilizada pelos patrões para impedirem os trabalhadores de levar a cabo o seu trabalho, instrumento liminarmente proibido (n.º 4 do Artigo 57) pela Constituição Portuguesa.

Quem está paralisar e a obrigar os trabalhadores por contra de outrem a serem solidários à força, podem até ser pequenos industriais, que facilmente se confundem com aqueles, mas não deixam de ser os seus próprios patrões. E são estes que estão a querer paralisar o País.

E reparem como a organização patronal do sector – que, como é evidente, não congrega os patrões de um só camião, e conduzido por eles próprios – tem tentado negociar. É evidente que as grandes empresas de transporte estarão melhor preparadas para enfrentarem a crise que se vive, ao contrário de quem trabalha por conta própria que, até para conseguir alguns fretes (frete = serviço contratado) se obrigam a ter uma muito mais pequena margem de lucro. Logo, sentem mais problemas destes, como o do galopante aumento do preço dos combustíveis.

Aquilo que não se disse, nem creio que venha a dizer-se, é que os camionistas mais renitentes em aderir à greve, são trabalhadores por conta de outrem que, e porque, de facto, o que está a acontecer não é uma greve, não estão legitimados para deixar de cumprir os compromissos contratuais para com o seu empregador.

A história dá pano para mangas. Em Portugal, principalmente em Portugal, mas em Espanha os números aproximar-se-ão muito da nossa própria realidade, grandes transportadores descobriram aqui há uns anos que uma excelente forma de reduzirem os encargos com pessoal assalariado, sem deixarem de poder somar lucros muito semelhantes, seria convidaram motoristas dos seus quadros para se desvincularem e começarem a trabalhar por conta própria.


Mais, podiam até levar os camiões, que iriam pagando conforme pudessem.
Para fazer face a este compromisso, há quem trabalhe 12, 14 horas consecutivas, arriscando tudo. Uma pesada multa por infracção ao regulamentarmente estabelecido e, quantas vezes, a sua vida e a de terceiros, por cansaço.

Não sei se perceberam alguma coisa do que escrevi. Mas uma coisa é líquida: estamos perante um acontecimento perfeitamente desenquadrado da Lei, que atenta contra ela, e para ser mais claro ainda, bastaria adiantar que a Liberdade de cada um termina onde começa a Liberdade dos outros.

Depois, está a acontecer aquilo que sempre acontece quando um grupo mais ou menos desorganizado, mas suficientemente numeroso se junta e transforma em corajoso o mais reles dos cobardes.

Apedrejar colegas de profissão, intimidá-los, sem mesmo se preocuparem com o facto de o estarem a fazer frente à maior janela do Mundo, que são as televisões, cortar tubos dos hidráulicos dos travões… puxar fogo a camiões de colegas de profissão, é algo só possível quando a turba chegou a um ponto de insanidade que começa a perfilar-se como séria ameaça à ordem pública.

Ainda agora acabo de ouvir/ver no Telejornal da RTP que a ANTRAM continua a negociar com o Governo e já por diversas vezes o acordo esteve à beira de ser concretizado.
A ANTRAM é a associação patronal.

Dos grande patrões, dos que têm 100, 150, 200 camiões.
A quem, 20 cêntimos de desconto/litro em 3000 litros de gasóleo/dia, e desconto também nas portagens, ainda dá uma maquia de poupança significativa.

Para quem só tem um camião… é nada.
Mas isso não lhes dá o direito de imporem, à força, aquilo que eles tomam como uma luta justa. Não é.

Eu, acho, sei do desespero desta gente. É semelhante ao dos largos milhares de cidadãos que têm a sua casa ameaçada, porque começa a não haver dinheiro para pagar as prestações aos bancos que ajudaram a comprá-la; provavelmente, também eles estão nesta condição, à qual acresce a necessidade de continuar a pagar o camião a quem os iludiu com a possibilidade de, em vez de ganharem um ordenado, se transformassem em patrões de si mesmos.

Leva muitos anos a pagar o camião e até este não estar pago os lucros são quase zero.

Mas não podem forçar ninguém a ser solidário com a sua legítima angústia. Perdem toda a razão.

E o País não pode dar-lhes razão quando é evidente que a luta é de todo particular. Lamentamos. Até somos capazes de ser solidários, mas não queiram obrigar-nos a sê-lo à força.
Não têm esse direito.
Tenham paciência, mas não têm!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

E Os “Boys” De Repente Coraram; Pena Não Ter Sido De Vergonha

Que me lembre, só por duas vezes assumi publicamente – aqui o publicamente significa, para um universo que ultrapassa as quatro paredes de minha casa, ou uma roda de amigos mais próximos – o meu apoio político declarado a uma pessoa ou causa.

A primeira, não liguem!...

Estávamos em 1974, tinha 14 anos e, numa eleição para a Associação de Estudantes da velhinha (eternamente provisória, apesar de, entretanto ter sido rebaptizada) Escola Técnica de Gago Coutinho - era assim que se chamava –, muito provavelmente na minha primeira demonstração de que não nasci arraçado de carneiro que segue a cabeça do rebanho, fiz parte da lista do MRPP (com o meu caríssimo Jorge Paulino, lembras Jorge? Tenho aqui numa gaveta as folhinhas com as nossas caras e “programa eleitoral”…) porque me atraía muito mais a desorganização, o livre pensamento que cultivávamos, nós, sei lá como era o MRPP, em contraponto à organização e perfeita hierarquização da UEC, a União dos Estudantes Comunistas que dominava completamente no meio estudantil, ainda mais entre os teen-agers. Perdemos, claro.
As eleições.
Mais tarde, já com 18 anos e direito a voto, só falhei, creio, duas eleições.

Uma porque não estava em Alverca, estava fora, ao serviço do Jornal no dia das eleições; outra porque fui surpreendido – culpa minha que não consultei os editais – com a mudança do local onde sempre havia votado.

Como, apesar de ser domingo, para mim era dia de trabalho, e só tinha previsto 5 minutos para ir votar e depois chegar a tempo do comboio para Lisboa, chegado à escola primária a nascente do velho Campo da Bola dei de caras com tudo fechado. E já não tinha tempo para voltar atrás para ir à Filarmónica.

A segunda vez que tomei uma posição pública, tão pública que o meu nome ainda lá está, no site, foi como subscritor da candidatura de Manuel Alegre à presidência da República.

Voltei a perder, mas não me enganei na personalidade do homem que eu gostaria que estivesse hoje no Palácio de Belém.
Por tudo.

Porque foi um resistente à ditadura de Salazar e Caetano, porque sempre foi um Homem de espírito livre, sempre pensou pela sua cabeça e não é uma cabeça qualquer.

Os seus diplomas não foram assinados a um domingo; não fez como o outro que fingiu, até ser descoberto, que não sabia que no seu currículo oficial tinha apenso um título académico que nunca teve.

A sua, de Manuel Alegre, obra, está aí, para quem quiser lê-lo.
Traduzido em dezenas de línguas, poeta maior, dos ainda vivos, da Língua Portuguesa.
Não uns prédiozinhos de emigrante, com marquises a fechar as janelas, como, para se “defender” o outro assumiu ter sido ele o autor do projecto.
O que pouca gente terá acreditado, diga-se em abono da verdade.

Foi a primeira e única vez que votei em alguém na órbita do PS.
E não estou arrependido.

Manuel Alegre, esteve na passada quarta-feira numa reunião/comício promovido pelo Bloco de Esquerda, causando uma brotoeja enorme nos “Boys” do Largo do Rato.

Desde os que já comeram do tacho, dos que ainda agora dele comem, dos que já só lambem os dedos e de muitos que têm como única ambição na vida poder chegar as respectivas barrigas ao mesmo tacho para poderem escolher os melhores pedaços.

“Boys”, muitos deles, que nada mais fizeram na vida do que escalar, degrau a degrau, a escadaria que os pode levar um dia a poderem, pelo menos, passarem o dedo no rebordo do tacho e poderem lambê-lo.
Políticos profissionais.
Infelizmente… a política é deles.
Valem-nos Homens como Manuel Alegre.

«É Tempo de a Esquerda se Unir à Esquerda!», foi uma das suas frases que a CS mais citou.

E Manuel Alegre não estava, tenham a certeza de que não estava, a falar de ocupação de terras ou fábricas, de privatizações mais ou menos tresloucadas.

Manuel Alegre não perdeu o norte, não precisa de bússola para perceber que o seu – também seu – partido socialista já só o é de nome. Aliás, no Parlamento Europeu o PS está incluído na bancada social-democrata!

Manuel Alegre será, nos dias de hoje, a voz menos comprometida e que, por isso, pode clamar por uma maior Justiça Social.
Tenho a certeza de que não será o único Socialista a não se rever no partido do José Pinto de Sousa.
Daí o medo.

Por isso, desde o mais irritante, porque é só isso, caniche, a um par de bulldogs, em relação aos quais será preciso ter algum cuidado, terem saltado em defesa de quem lhes dá, deu, ou eles esperam que um destes dias lhes venha a dar, o ossito, que é disso e para isso que vivem.

Querem mensagem mais clara numa só frase?
«É tempo de a Esquerda se Unir à Esquerda!»

O PS do Pinto de Sousa é tudo menos de esquerda.

É tempo de pôr um travão à cavalgante clivagem Social que vivemos.

Pôr um travão à pornográfica escalada dos ordenados dos gestores, ao mesmo tempo que se pede aos que trabalham que tenham paciência e façam mais um furinho no cinto.

Acabar, redistribuindo-os com os pornográficos lucros da banca, isto quando estes lucros arrastam famílias inteiras, empenhadas até ao último cabelo.

Não sou analista político, mas também não sou parvoo Mourinho copiou esta minha frase para italiano, o sacana -, ficou o aviso.

E como não acredito que o Pinto de Sousa desista da sua postura salazarenta – que não é o mesmo que salazarista, que isto significaria ser seu seguidor, naquilo que a política do velho “Botas” teve de melhor, que foi na área das finanças – que no PS não se riam da, cada vez mais forte possibilidade da “balcanização” do partido, à imagem do que está a acontecer com o PSD.

E como já não há-de haver muitos “Jobs” para os “Boys”, e ainda há mais votantes com mais de 45 anos do que com menos, percebe-se a brotoeja que pôs todos no Largo do Rato a coçar-se.

É mais do que evidente que já perceberam que numa hipotética cisão, porque quando esta acontecer não vai ser em duas partes mas, tal como está a acontecer com o PSD, em diversas tendências, Manuel Alegre terá a mais larga franja de apoiantes.

Termino com um trecho do poema “Ser ou não ser” de Manuel Alegre (1999).

Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.