terça-feira, 31 de julho de 2007

"Sou um português" - 1, 2... 3!

Rafael Bordallo Pinheiro, ceramista, filho de uma família de artistas plásticos, conquistou a imortalidade ao “inventar” o Zé Povinho – ainda hoje símbolo do português do povo –, mas a figura claramente rural, de chapéu, barba grande e a fazer o manguito, que é coisa que habitualmente se faz nas costas de alguém logo, revelando mais do que irreverência, um tudo nada de… cobardia (que também nos identifica, sim senhor!) ver-se-ia bem mais aflito para encontrar o “símbolo” nacional do Século XXI.
Mas hoje teria tido, só vendo o Telejornal, três boas pistas.

Caso.1 – Milhar e meio de pessoas passou a última madrugada ao relento, em Matosinhos, porque uma empresa de mobiliário oferecia… 100 “cheques” de 100 euros (20 contos) aos primeiros a entrar na loja que abria… hoje de manhã.
Das duas, uma…
... a partir do meio da fila – já dando uma larga margem de manobra (porque até somos, reconhecidamente maus a matemática e os dedos não chegam para contar atém tantos…) – as pessoas ou não sabiam que só havia 100 cheques para dar ou, bem à portuguesa, acreditaram no “milagre da multiplicação”.

Eu acho mesmo é que a partir do 200 ninguém sabia era mesmo o que ali estava a fazer… havia uma fila e, à portuguesa, colaram-se a ela.
É tão grande o hábito…

Caso.2 – Primeiro, não percebo porque é que, sendo que o selo NO carro só é obrigatório a partir de Setembro… o prazo para a sua compra terminou hoje… 31 dias antes!
Ok… mas começou a 1 de Junho. Há 61 dias!...

E não é que ainda havia gente a queixar-se?
Ouvi um rapazola a “mandar vir” com o facto de a “repartição de finanças” lá do sítio está num contentor, que havia pó e calor… e o diabo a quatro; outro que já vinha de Loures e não encontrava selo em lado nenhum; uma "madama" que não deixou de sublinhar que... interrompera as férias!...
E ninguém lhe disse… “amiga… há oito dias não havia aqui ninguém para comprar o selo!”

Caso.3 – O Fisco arrecadou mais de um balúrdio com uma ideia pioneira do senhor Macedo, que agora sai de “big-boss” das Finanças, e que foi tão simples quanto isto: afixava-se os nomes dos caloteiros e…
… e claro que deu resultado.

É que toda a estrutura, à volta daquilo que o “tuga” mais preserva, assenta… na ideia que os “vizinhos” têm dele.
Vai de férias para Cancun; oferece um carro à filha que vai fazer 18 anos; instala ar condicionado no quarto e dormir, que é o sítio onde menos é usado, mas o aparelho pendurado na parte de fora da parede dá “status”…
“mostra” que é… ALGUÉM.

É tudo comprado a crédito, mas que interessa?
O jantar são sempre sopas da Knorr, que aconchegam as duas sandochas que fingiram de almoço… mas o que conta é aparecer, aos olhos do vizinho, como alguém que “não gasta mais porque não lhe apetece…”

Vejam agora o “estrago” que não faria ter o nome na lista de devedores ao Fisco!

Este Paulo Macedo (agora, ex-responsável máximo por esse aspirador que nos leva coiro e cabelo) não é um super-iluminado… apenas ia tomar a bica ao mesmo café a que iam os vizinhos do seu bairro e… percebeu tudo aquilo que EU já tinha percebido.

Por isso, se não se importarem e quiserem mandar um emailzinho ao senhor ministro das Finanças a dar-lhe conta das minhas capacidades… Obrigado!!!!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

O País pode esperar...

São oito e quarto da noite – ou devia dizer da tarde? – e acabo de desligar a televisão para não ver, outra vez, o Luís Filipe Vieira a chorar. Agora por causa do livro do Mantorras!

Estive, já perceberam, a ver o T
elejornal.
No Canal Público. Ainda assim aquele de que sou freguês.

Um despiste de uma carrinha com teen-agers, por acaso escuteiros que, ainda assim – e ainda bem, sob o ponto de vista das editorias do Telejornal – deu uma perna partida com direito a intervenção cirúrgica, o que justificou três equipas de reportagem no exterior: uma (apoiada por uma infografia animada) no local do acidente; outra no local da concentração nacional dos “escutas” e uma terceira às portas do Hospital de Abrantes; as elevadas temperaturas – como se para qualquer cidadão fosse notícia o facto de hoje ter estado um bafo monumental – e os habituais rodapés (os idosos e as crianças devem evitar a exposição ao sol e ingerir muitos líquidos, de preferência!!!!! Água – não fora a gente optar pelo gin tónico que, ainda é mais fresco); o resultado de uma audiência que não deu mais que umas multas pecuniárias a (alguns de) um bando de energúmenos que tentaram bater num político há quatro anos atrás… e duas entrevistas na praia, com o pessoal a achar que se ‘tá bem, que na Alemanha é uma seca com apenas 25 graus no Verão, e outros, só a servirem de suporte às imagens, a comerem alarvemente uma fatia de melancia.

Pelo meio, e já não vi o desenvolvimento da notícia, o caso de um pendular que hoje terá feito a viagem Lisboa-Porto sem… ar condicionado.
Uma mancha, num dos melhores serviços que por acaso temos.

Mas dizer mal é sempre notícia.

Antes do Telejornal vi mais uma repetição do Preço Certo, com o Fernando Mendes a ser corpo e alma de um concurso repetitivo que só a sua intervenção mantém nos tops.

E, mesmo tratando-se de uma repetição – este programa, por acaso, não tinha visto ainda – foi nele que vi/ouvi a grande declaração do dia. Às clássicas perguntas do último dos “velhos” humoristas, uma senhora, muito perto da casa dos 50 respondeu que “estava na maior empresa do País: os desempregados.

Viva a Informação que dá férias aos políticos quando muito do mais básico daquilo a que temos direito, enquanto cidadãos, é obrigado a ir a banhos porque os senhores políticos também têm direito a férias.

O País pode esperar…

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Quando deixarmos de rir das suas palhaçadas, o palhaço deixa te existir

Até eu, sobre quem, mesmo os amigos incondicionais não se atrevem a garantir que seja assim tão inteligente, já há muito conheço o truque.

Primeiro, a gente faz-se de meio maluco; acham graça.
Depois, fazemo-nos passar por um pouco mais malucos ainda; continuam a achar graça.
Finalmente, e apesar de darmos mostras de que não regulamos, de facto, mesmo muito bem… toda a gente fica sem saber como reagir.

O pior é que a grande maioria – porque, sejamos francos, também não ficam a dever muito à inteligência – não chega mesmo a perceber que deixou de ter piada. Que a coisa ficou séria.

Falo desse pesadelo que o fantasma de Salazar criou de propósito para atormentar todos os portugueses de boa vontade, só para provar que não temos [genericamente, que eu nestas coisas não me misturo…] TOMATES!

Não somos capazes de reduzir o senhor Alberto João Jardim à sua real dimensão.

Começou por parecer um cacique à moda antiga… não acreditámos;

passou a SER UM CACIQUE à (pior) moda antiga… e fingimos que não acreditávamos;
agora revela-se: é a caricaturazinha de um ditadorzinho de uma republicazinha povoada por… grandes BANANAS! Nós todos, que o alimentamos com os nossos descontos.

Na Madeira não há Lei do Aborto para ninguém! Decidiu o AJJ…
Sabem mesmo o que é que eu penso?

Que se não for MESMO retroactivo… (sabem até quando, não sabem?) que se lixe!...

Corte-se a amarra que liga a ilha do AJJ aos nossos bolsos.
Tenho pena das mulheres da Madeira, mas também tenho a certeza que se as fossemos ouvir diriam que o AJJ é que tem razão…

Há dinheiro para suportar três equipas profissionais de futebol… mas não há para garantir, às mulheres que o queiram, um direito ganho num referendo nacional?

Eu proponho um outro referendo...

Vamos perguntar a quem, de facto, paga as MANIAS do senhor AJJ – que somos todos nós – se queremos continuar a sustentar as suas palhaçadas.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Liberdade de Imprensa Ameaçada

Há já uns dias que venho a adiar a MINHA opinião sobre o novo Estatuto do Jornalista” mas, por um motivo ou outro, vai-se a oportunidade, escoa-se a vontade… perde-se o comboio.

Mas estou agora, e aqui, para me manifestar.
Não concordo.

E o facto de não concordar não tem nada de corporativo.
O Diploma apresentado por este Governo, Socialista (?) na designação, faz-nos recuar cinco dezenas de décadas. Só a maioria conseguida no elenco do parlamento levou à sua aprovação. E, embora a política não seja, de facto uma das áreas onde me mova com algum à-vontade, exemplos destes levam-me à conclusão que, neste sistema chamado de “democrático” as maiorias parlamentares são perniciosas.

Logo, e como embora seja possível trazer de Cabeceiras de Basto autocarros cheios de velhotes para fazerem a festa de uma vitória descolorida para a… Câmara Municipal de Lisboa – quem haveria de dizer, não é doutor António de Oliveira Salazar? – isso não tem mais peso do que aquilo que lhe daremos, sou levado a constatar que… maiorias parlamentares NUNCA MAIS. Nem que tenha que votar no fascista PNR!

A figura do Jornalista – mesmo sabendo que a “caixa alta” já não faz sentido, porque cada vez há mais jornaleiros que jornalistas – não pode ser condicionada. Não há liberdade que sobreviva a uma Comunicação Social manietada, condicionada... – já basta as pressões dentro das próprias redacções – açaimada.

Nunca, e não há um único exemplo na História, nenhum Jornalista teve como motivação o mergulhar numa investigação que não fosse além do querer dar ao seu Jornal o exclusivo de uma estória. Mais nada.

Se um Jornalista consegue chegar, com as ajudas – normais e naturais, das fontes que fidelizou – a um indivíduo que é procurado pela polícia, jamais poderia ser dado a um juíz o poder de o obrigar a revelar as fontes. Quando muito… julgassem-se as instituições policiais por serem menos “penetrantes” que os próprios jornalistas. Mas pronto... isso já estava no Esatuto do Jornalista. Só em tribunal e perante um Juíz - e não seria em todas as situações - um Jornalista poderia evelar a forma como chegara à notícia.

Com as recents mudanças, e sem podermos garantir às nossas fontes a segurança de que jamais as revelaremos, seja em que circunstância fôr… vamos perder fontes.
Sem essas fontes vão acontecer casos que escaparão ao Jornalista e a pergunta que fica no ar é só esta: a quem interessa isso?
A resposta é claríssima: a quem teve o cuidado de cercear a liberdade aos jornalistas.

Neste caso concreto, ao Governo do senhor engenheiro – que não é engenheiro – José Sócrates. Que é do Partido Socialista. Vejam lá se não fosse…

Mas ainda há gente pensante neste país. A última esperança que nos resta é que estes consigam sobrepor-se aos vermes rastejantes que parecem aqueles cachorros que há 30 anos toda a gente tinha atrás dos bancos traseiros dos automóveis e que abanavam “que sim, que sim” ao longo de toda a viagem.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Qual é o preço da... consciência?

Leio, e oiço, dia após dia, que na maioria dos Hospitais Públicos (HP) nacionais ronda os 100% o número de médicos que se declararam Objectores de Consciência no que respeita à efectivação da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), isto quando a Lei determina que, não havendo nos HP médicos para consumarem aquela prática, estes remeterão as mulheres, se necessário for, para Clínicas Privadas (CP), sendo que o Estado continuará a suportar as despesas.

Entretanto, há já alguns meses que o número de CP criadas exclusivamente para esse efeito tem vindo a aumentar.

A pergunta que fica implícita é clara: com que médicos é que essas CP levarão a cabo as operações da IVG? Serão espanhóis? Médicos vindos do Leste da Europa?

Tomando como certos os muitos rumores de que existem médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, revelando-se “incapazes” de resolver certos problemas no âmbito daquele serviço, encaminham os doentes para CP onde… eles próprios desempenham actividade, e perante a força dos números, acharia de todo pertinente que, em cada HP fossem afixados os nomes dos médicos objectores de consciência.

E que depois se comparassem esses mesmos nomes com os dos médicos que, em CP, realizam essas operações. Estou em crer que iríamos ter algumas (muitas) surpresas…

Pese embora, seja em que caso for, os custos da consumação prática da IVG acabe por sair dos bolsos dos cidadãos pagantes de Impostos, o que poderia tornar irrelevante o saber-se quem, de facto a realiza, serviria, contudo, para sabermos quantas consciências… mudam, desde que para isso sejam melhor pagas.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Já sentiu vergonha de ser português?


Esta é uma pergunta que, não raro, é incluída nos intragáveis “inquéritos de Verão” que muitos jornais usam para disfarçar a baixa de efectivos por causa… das férias.

Desde há alguns meses já, creio que é o semanário Sol que a inclui numa das duas rubricas de “entrevistas” de resposta rápida.

Nunca mo perguntaram directamente, mas já me pronunciei sobre isso, em roda de amigos.

Claro que tenho já um portofólio de razões pelas quais, inapelavelmente tenho que TER vergonha de ser português. O que não é o mesmo que ter vergonha das minhas raízes.

Tenho vergonha de ser português quando sei, por exemplo, que pessoas realmente doentes são dadas como aptas por "juntas médicas". E morrem pouco depois de terem sido obrigadas a voltarem ao trabalho.

Tenho vergonha quando se confirmam zunzuns de que existe, de facto, uma promiscuidade a raiar o criminoso – no sentido de se concretizarem actos passíveis de serem puníveis à luz das Leis regentes – entre algumas grandes empresas e o próprio Estado, seja qual for o seu agente.

Tenho vergonha quando um taxista – e eu conheço muitos profissionais do ramo – apanham um turista no aeroporto, que lhe pede para ir para os Restauradores e ele faz a volta por Cascais, via-auto estrada para voltar pela marginal.

Tenho vergonha quando, agora falo do Campeonato do Mundo de futebol da Coreia/Japão, ainda no estágio em Macau, o treinador derrete centenas de milhares de euros num casino e fica, psicologica e emocionalmente, sem condições de pensar num simples jogo de futebol.

Tenho vergonha porque com ele estavam jornalistas e isso nunca se soube.

Tenho vergonha quando, mantendo-me no mesmo assunto, na equipa de dirigentes da Selecção havia alguém que, cuja função era a de arranjar “meninas” para que os jogadores – e não só – descomprimissem.

Tenho vergonha porque, envolvidos, havia jornalistas que, claro, calaram tudo o resto porque com rabo-de-palha corriam o risco de serem queimados na fogueira geral.

E tenho vergonha, agora, porque um grupo de putos reguilas, todos eles a imaginarem-se “cristianos ronaldos”, “danis” e outro que tais, já começam a achar que isto de estar duas semanas fora de casa não faz sentido. Se eles são os MAIORES, treinar para quê?

Correr ao sol para quê?
Cansar-se, para quê?

E tenho vergonha por o seleccionador nacional… um treinador daqueles que conquistou esse estatuto mais por mostrar uma exemplar flexibilidade da coluna vertebral, em vez de credenciais a sério, assumir, claramente, que o mais importante é o seu empregozinho.

Só vi os últimos 15 minutos finais do jogo de ontem. E tive tanto azar que vi um jovem cuja única hipótese de se tornar alguém nesta sociedade, vem, de longe, e usa o físico para agredir um companheiro de profissão.

E vi um qualquer atrasado mental – com as minhas desculpas públicas em relação à pessoas que, de facto sofrem desta doença – a gamar o cartão que o árbitro exibia ao idiota que, não sendo capaz de, com a bola nos pés, se mostrar superior ao adversário, usou o físico.

E tenho uma imensa vergonha de um tal José Couceiro.

Nem é dirigente, nem é treinador… é um daqueles sobreviventes que sobrevive à custa de tanto dobrar a espinha ante os seus hierarquicamente superiores.

Um técnico com “eles” no sítio tinha-se antecipado ao juíz da partida e mandado retirar de campo as duas criancinhas mal comportadas.

Comigo, nessa noite iam para a cama sem jantar. E a Federação Portuguesa de Futebol que já anunciou que as coisas não vão ficar assim, devia prever que há quem não perca a memória.

Não há muitos anos ainda um tal Amoreirinha – que por acaso é daqui, de Alverca – pontapeou um adversário na cabeça… e o que aconteceu?

Foi quase transformado em herói nacional.

O menino Amoreirinha, se calhar andava a arrumar carros, mas futebol federado não jogaria mais. Nem este “Mano”, nem este “Zequinha”.

E ao tal Couceiro… se houvesse alguém a quem restasse um pouco de vergonha na cara… era pura e simplesmente despedido por incompetência.

O senhor Scolari tem uma dúzia de engraxadores que lhe podem polir os sapatos, só no eixo Baixa-Chiado.

É verdade. Tenho vergonha de ser português.
Agora, tenho.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Ai se o ridículo matasse... (pelo menos que deixasse uma marca visível bem entre os olhos de alguns iluminados...)

Ouço e pasmo!
O senhor Manuel Monteiro, presidente de uma coisa que se chama Nova Democracia que tem, a nível nacional, menos votantes do que sócios tem o FC Alverca, mesmo tendo sido atirado para a II Divisão do Distrital de Lisboa, usando uma permissa da Lei, tem direito ao seu espaço de antena enquanto candidato às eleiçoes para a Câmara Municipal de Lisboa.

Espaço curto, proporcional à expressão que o agrupamento tem na vida nacional.
E como é que ele hoje preencheu esses espaço?

Pois bem, notou que, usando ainda a Guarda Nacional Republicana forças montadas para patrulhamento de algumas zonas da cidade, os militares que cavalgam a alimária deviam ir fornecidos das saquetas de plástico e, de cada vez que o bicho soltasse os intestinos, desmontar e recolher as bostas.

Coisa para a qual Manuel Monteiro ainda não convenceu as madamas, algumas, presença constante na chamada imprensa cor-de-rosa, a fazer quando passeiam os seus lulus.

E eu estou mesmo a ver a cena.
Diz um guarda para o outro:
"Rodrigues, olha ali um assalto à mão armada..."
Responde este:
«'Péra aí que tenho que ir apanhar a bosta que o Hércules acabou mesmo agora de despejar para a via pública!»

E Manuel Monteiro disse-o sem demonstrar o mínimo de vergonha na cara.
Não há pachorra!

Que se cumpra a Lei, digo eu. Logo... castigue-se


Três ou quatro notas, umas mais actuais, outras nem tanto. Mas que (para mim) são pertinentes…

Primeiro: Um jogador de futebol, porque o seu salário líquido seria diminuído devido ao facto de, como qualquer outro cidadão pagador de impostos neste país, o seu salário bruto passaria a ser tributado pelo que a Lei dita, num binómio massa salarial/escalão tributário há muito em vigor para outras profissões, fez as malas e pirou-se para Espanha.
Terá pensado que ganha por mês 100 vezes mais do que o salário médio nacional?

Mais (muito mais) ainda em relação ao salário mínimo com o qual dezenas de milhar de portugueses têm que (sobre)viver?
Só pensou nele.

Não fora a autêntica cegueira de todos os que gravitam à volta do futebol, o nome desse senhor jamais seria pronunciado. Ou escrito.
Se o senhor Scolari tivesse um mínimo de respeito pelo povo português, pelos que, com os seus impostos, lhe pagam o milionário salário que usufrui, também o esquecia. Até porque fugindo a pagar o imposto equivalente ao que ganha, esse jogador deixou de contribuir para o salário do senhor Scolari.

De resto, e quanto ao jogador, nada mais lhe tenho a apontar.

Fez o que achou ser melhor para SI.
Que seja feliz.

Segundo: O senhor Marques Mendes – como não é do Governo, acho que não corro o risco de ser levado a tribunal por dizer umas verdades – durante três anos FUGIU das suas responsabilidades para com a Nação não pagando impostos sobre um ordenado “miserável” de 750 contos/mês x 14 meses, para fazer nada numa das universidades privadas que nasceram neste país como cogumelos a partir dos anos 80 do século passado.
Isto aconteceu entre 1999 e 2002.
Claro que “explicou” tudinho.
Usando uma linguagem técnica que o comum dos cidadãos não percebe.
Não eram salários.
Eram prémios de presença, prémios de representação, de deslocação, estadias e combustíveis.
Está tão à vontade no assunto que usou a clássica “fuga em frente”:
“Em altura de eleições isto é um ataque…”
Pois!

Reconhece quem sim, seriam tributáveis, em termos de IRS, mas não para a Segurança Social. Mas pagou IRS?
Não sei.
Não sabemos.
A sua resposta – hoje publicada no Correio da Manhã – foi feita por escrito. Não vale a pena escondê-lo.
Daqui a dois dias ninguém mais se lembra disto.

A questão é esta: pode, qualquer cidadão, seja de que classe social for, concertar com a sua entidade pagadora, um ordenado de… digamos, 150 euros mensais (tributáveis) e receber o resto do que lhe é devido a troco das facturas no supermercado, no infantário para os filhos, no combustível que gasta para ir trabalhar…

Não?

Então é líquido que o senhor Marques Mendes, fazendo valer o seu estatuto, beneficiou de condições que estão vedadas à esmagadora maioria dos cidadãos que ele diz querer representar.

Se um cidadão ordinário recebesse de ordenado 150, 200 euros de ordenado, que seriam depositados – como já é usual nos dias de hoje – na sua conta bancária, e o resto que tivesse combinado com o patrão a troco das facturas do infantário, da prestação da casa, da prestação do automóvel, do combustível que gasta… qual seria a diferença em relação ao senhor Marques Mendes?

É que, acreditem ou não, a uma larguíssima fatia do todo da população activa em Portugal, depois pagar aquilo tudo não lhes sobra mais dos que os tais 150, 200… vá lá, 250 euros ao fim do mês.
Mas tem de pagar impostos sobre os 1500 ou 2000 euros/mês. Perdoem-me os que ganham metade disso. Que são a maioria. Repito: A MAIORIA.

Terceiro: Depois de dois casos que chocaram a opinião pública – a dos dois professores vítimas de cancro – quando uma tal comissão de avaliação das reformas por incapacidade física (juntas médicas) julgou improcedente o pedido de dois cidadão que, como ficou provado da pior maneira – morreram ambos pouco tempo depois – até se justificava, obrigou-os a voltarem ao trabalho.

Morreram trabalhando.
Só depois destes acontecimentos é que o Governo resolve actuar.
Mais vale tarde do que nunca.
Mas eu sou sincero… os responsáveis por essas juntas médicas deviam ir a tribunal e julgados culpados por homicídio. Embora não premeditado.

E há outra história que hoje conta o Correio da Manhã. Uma senhora que cegara e estava à espera de uma operação às cataratas recebeu nos últimos dias uma carta com a data da operação marcada. A senhora faleceu há dois anos atrás.

E esta estória – a das reformas – já me tocou (mantidas as devidas proporções) de muito perto.
Obrigada a deixar de trabalhar porque, de facto, não tinha condições para isso, a minha falecida mãe viu ser-lhe negada a reforma por três vezes. Ela que trabalhara – não contanto com as tarefas sazonais do trabalho agrícola, que fez, ainda no Alentejo – dos 21 aos 61 anos, teve que desistir do emprego. Chumbou três vezes nas tais juntas médicas até que, já doente com cancro, lá lhe despacharam a reforma.

Lembro-me como se fosse hoje.
Já tinha passado a primeira fase de quimioterapia, estava fisicamente disforme, sem um pelo na cabeça, mal se movia pela casa. No dia em que recebeu a carta a dizer que estava reformada, quando eu me fui despedir dela agarrou a minha mão e num fio de voz disse-me: “Tantos anos a tentar a reforma, dão-ma agora, que vou morrer.”

Isto disse-mo quando eu saía para mais uma temporada fora, para cobrir mais uma edição da Volta a Portugal, em 2002 (Agosto). Acabada a Volta estive 5 dias em casa, antes de partir outra vez para fazer a Volta a Espanha (Setembro). Não me viu mais.
Dois dias depois desta terminar, quando eu cheguei a Lisboa e fui vê-la ao IPO, já nem olhou para mim. Já não me viu.
Morreu nessa madrugada.

Quarta nota: Numa Lei deste Governo “socialista”, os trabalhadores passam a ser avaliados pelo desempenho. Só 5% dos 25% considerados não prescindíveis podem ser candidatos a uma promoção.

Não é novidade para mim.
No último ano que trabalhei (2005) a minha empresa resolveu avaliar os trabalhadores.

Na minha Secção somos três os elementos com responsabilidade de chefia.
Uma esteve nove meses de baixa, por parto;
o outro saía, um em cada dois dias, às oito da noite deixando, a quem não ganha para isso, a tremenda responsabilidade de fechar a edição.
Por três vezes, pelo menos, ele foi chamado ao gabinete da doutora Margarida Ribeiro dos Reis para (tentar) justificar erros primários no trabalho pelo qual, enquanto editor, era (devia ser) responsável.

Eu, houve temporadas em que – porque tinha, ao mesmo tempo que editava o jornal, escrever destacáveis, nomeadamente o da Volta a Portugal – entrei semanas e semanas consecutivas às 10 da manhã e saía às 2.30, três da madrugada, porque o outro se recusou a atrasar uma semana as férias entretanto marcadas e apesar de eu lho ter pedido.

Eu que sempre lá estive para acorrer a todos os “fogos”, que fiz, pelo menos, quatro corridas no exterior, mais a Volta e a Vuelta, trabalhando das 8 da manhã às 10 da noite, recebi um… B+.
Os outros dois receberam um A.
A nota maior.
Doeu-me muito.