quinta-feira, 12 de julho de 2007

Que se cumpra a Lei, digo eu. Logo... castigue-se


Três ou quatro notas, umas mais actuais, outras nem tanto. Mas que (para mim) são pertinentes…

Primeiro: Um jogador de futebol, porque o seu salário líquido seria diminuído devido ao facto de, como qualquer outro cidadão pagador de impostos neste país, o seu salário bruto passaria a ser tributado pelo que a Lei dita, num binómio massa salarial/escalão tributário há muito em vigor para outras profissões, fez as malas e pirou-se para Espanha.
Terá pensado que ganha por mês 100 vezes mais do que o salário médio nacional?

Mais (muito mais) ainda em relação ao salário mínimo com o qual dezenas de milhar de portugueses têm que (sobre)viver?
Só pensou nele.

Não fora a autêntica cegueira de todos os que gravitam à volta do futebol, o nome desse senhor jamais seria pronunciado. Ou escrito.
Se o senhor Scolari tivesse um mínimo de respeito pelo povo português, pelos que, com os seus impostos, lhe pagam o milionário salário que usufrui, também o esquecia. Até porque fugindo a pagar o imposto equivalente ao que ganha, esse jogador deixou de contribuir para o salário do senhor Scolari.

De resto, e quanto ao jogador, nada mais lhe tenho a apontar.

Fez o que achou ser melhor para SI.
Que seja feliz.

Segundo: O senhor Marques Mendes – como não é do Governo, acho que não corro o risco de ser levado a tribunal por dizer umas verdades – durante três anos FUGIU das suas responsabilidades para com a Nação não pagando impostos sobre um ordenado “miserável” de 750 contos/mês x 14 meses, para fazer nada numa das universidades privadas que nasceram neste país como cogumelos a partir dos anos 80 do século passado.
Isto aconteceu entre 1999 e 2002.
Claro que “explicou” tudinho.
Usando uma linguagem técnica que o comum dos cidadãos não percebe.
Não eram salários.
Eram prémios de presença, prémios de representação, de deslocação, estadias e combustíveis.
Está tão à vontade no assunto que usou a clássica “fuga em frente”:
“Em altura de eleições isto é um ataque…”
Pois!

Reconhece quem sim, seriam tributáveis, em termos de IRS, mas não para a Segurança Social. Mas pagou IRS?
Não sei.
Não sabemos.
A sua resposta – hoje publicada no Correio da Manhã – foi feita por escrito. Não vale a pena escondê-lo.
Daqui a dois dias ninguém mais se lembra disto.

A questão é esta: pode, qualquer cidadão, seja de que classe social for, concertar com a sua entidade pagadora, um ordenado de… digamos, 150 euros mensais (tributáveis) e receber o resto do que lhe é devido a troco das facturas no supermercado, no infantário para os filhos, no combustível que gasta para ir trabalhar…

Não?

Então é líquido que o senhor Marques Mendes, fazendo valer o seu estatuto, beneficiou de condições que estão vedadas à esmagadora maioria dos cidadãos que ele diz querer representar.

Se um cidadão ordinário recebesse de ordenado 150, 200 euros de ordenado, que seriam depositados – como já é usual nos dias de hoje – na sua conta bancária, e o resto que tivesse combinado com o patrão a troco das facturas do infantário, da prestação da casa, da prestação do automóvel, do combustível que gasta… qual seria a diferença em relação ao senhor Marques Mendes?

É que, acreditem ou não, a uma larguíssima fatia do todo da população activa em Portugal, depois pagar aquilo tudo não lhes sobra mais dos que os tais 150, 200… vá lá, 250 euros ao fim do mês.
Mas tem de pagar impostos sobre os 1500 ou 2000 euros/mês. Perdoem-me os que ganham metade disso. Que são a maioria. Repito: A MAIORIA.

Terceiro: Depois de dois casos que chocaram a opinião pública – a dos dois professores vítimas de cancro – quando uma tal comissão de avaliação das reformas por incapacidade física (juntas médicas) julgou improcedente o pedido de dois cidadão que, como ficou provado da pior maneira – morreram ambos pouco tempo depois – até se justificava, obrigou-os a voltarem ao trabalho.

Morreram trabalhando.
Só depois destes acontecimentos é que o Governo resolve actuar.
Mais vale tarde do que nunca.
Mas eu sou sincero… os responsáveis por essas juntas médicas deviam ir a tribunal e julgados culpados por homicídio. Embora não premeditado.

E há outra história que hoje conta o Correio da Manhã. Uma senhora que cegara e estava à espera de uma operação às cataratas recebeu nos últimos dias uma carta com a data da operação marcada. A senhora faleceu há dois anos atrás.

E esta estória – a das reformas – já me tocou (mantidas as devidas proporções) de muito perto.
Obrigada a deixar de trabalhar porque, de facto, não tinha condições para isso, a minha falecida mãe viu ser-lhe negada a reforma por três vezes. Ela que trabalhara – não contanto com as tarefas sazonais do trabalho agrícola, que fez, ainda no Alentejo – dos 21 aos 61 anos, teve que desistir do emprego. Chumbou três vezes nas tais juntas médicas até que, já doente com cancro, lá lhe despacharam a reforma.

Lembro-me como se fosse hoje.
Já tinha passado a primeira fase de quimioterapia, estava fisicamente disforme, sem um pelo na cabeça, mal se movia pela casa. No dia em que recebeu a carta a dizer que estava reformada, quando eu me fui despedir dela agarrou a minha mão e num fio de voz disse-me: “Tantos anos a tentar a reforma, dão-ma agora, que vou morrer.”

Isto disse-mo quando eu saía para mais uma temporada fora, para cobrir mais uma edição da Volta a Portugal, em 2002 (Agosto). Acabada a Volta estive 5 dias em casa, antes de partir outra vez para fazer a Volta a Espanha (Setembro). Não me viu mais.
Dois dias depois desta terminar, quando eu cheguei a Lisboa e fui vê-la ao IPO, já nem olhou para mim. Já não me viu.
Morreu nessa madrugada.

Quarta nota: Numa Lei deste Governo “socialista”, os trabalhadores passam a ser avaliados pelo desempenho. Só 5% dos 25% considerados não prescindíveis podem ser candidatos a uma promoção.

Não é novidade para mim.
No último ano que trabalhei (2005) a minha empresa resolveu avaliar os trabalhadores.

Na minha Secção somos três os elementos com responsabilidade de chefia.
Uma esteve nove meses de baixa, por parto;
o outro saía, um em cada dois dias, às oito da noite deixando, a quem não ganha para isso, a tremenda responsabilidade de fechar a edição.
Por três vezes, pelo menos, ele foi chamado ao gabinete da doutora Margarida Ribeiro dos Reis para (tentar) justificar erros primários no trabalho pelo qual, enquanto editor, era (devia ser) responsável.

Eu, houve temporadas em que – porque tinha, ao mesmo tempo que editava o jornal, escrever destacáveis, nomeadamente o da Volta a Portugal – entrei semanas e semanas consecutivas às 10 da manhã e saía às 2.30, três da madrugada, porque o outro se recusou a atrasar uma semana as férias entretanto marcadas e apesar de eu lho ter pedido.

Eu que sempre lá estive para acorrer a todos os “fogos”, que fiz, pelo menos, quatro corridas no exterior, mais a Volta e a Vuelta, trabalhando das 8 da manhã às 10 da noite, recebi um… B+.
Os outros dois receberam um A.
A nota maior.
Doeu-me muito.

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