sexta-feira, 13 de julho de 2007

Já sentiu vergonha de ser português?


Esta é uma pergunta que, não raro, é incluída nos intragáveis “inquéritos de Verão” que muitos jornais usam para disfarçar a baixa de efectivos por causa… das férias.

Desde há alguns meses já, creio que é o semanário Sol que a inclui numa das duas rubricas de “entrevistas” de resposta rápida.

Nunca mo perguntaram directamente, mas já me pronunciei sobre isso, em roda de amigos.

Claro que tenho já um portofólio de razões pelas quais, inapelavelmente tenho que TER vergonha de ser português. O que não é o mesmo que ter vergonha das minhas raízes.

Tenho vergonha de ser português quando sei, por exemplo, que pessoas realmente doentes são dadas como aptas por "juntas médicas". E morrem pouco depois de terem sido obrigadas a voltarem ao trabalho.

Tenho vergonha quando se confirmam zunzuns de que existe, de facto, uma promiscuidade a raiar o criminoso – no sentido de se concretizarem actos passíveis de serem puníveis à luz das Leis regentes – entre algumas grandes empresas e o próprio Estado, seja qual for o seu agente.

Tenho vergonha quando um taxista – e eu conheço muitos profissionais do ramo – apanham um turista no aeroporto, que lhe pede para ir para os Restauradores e ele faz a volta por Cascais, via-auto estrada para voltar pela marginal.

Tenho vergonha quando, agora falo do Campeonato do Mundo de futebol da Coreia/Japão, ainda no estágio em Macau, o treinador derrete centenas de milhares de euros num casino e fica, psicologica e emocionalmente, sem condições de pensar num simples jogo de futebol.

Tenho vergonha porque com ele estavam jornalistas e isso nunca se soube.

Tenho vergonha quando, mantendo-me no mesmo assunto, na equipa de dirigentes da Selecção havia alguém que, cuja função era a de arranjar “meninas” para que os jogadores – e não só – descomprimissem.

Tenho vergonha porque, envolvidos, havia jornalistas que, claro, calaram tudo o resto porque com rabo-de-palha corriam o risco de serem queimados na fogueira geral.

E tenho vergonha, agora, porque um grupo de putos reguilas, todos eles a imaginarem-se “cristianos ronaldos”, “danis” e outro que tais, já começam a achar que isto de estar duas semanas fora de casa não faz sentido. Se eles são os MAIORES, treinar para quê?

Correr ao sol para quê?
Cansar-se, para quê?

E tenho vergonha por o seleccionador nacional… um treinador daqueles que conquistou esse estatuto mais por mostrar uma exemplar flexibilidade da coluna vertebral, em vez de credenciais a sério, assumir, claramente, que o mais importante é o seu empregozinho.

Só vi os últimos 15 minutos finais do jogo de ontem. E tive tanto azar que vi um jovem cuja única hipótese de se tornar alguém nesta sociedade, vem, de longe, e usa o físico para agredir um companheiro de profissão.

E vi um qualquer atrasado mental – com as minhas desculpas públicas em relação à pessoas que, de facto sofrem desta doença – a gamar o cartão que o árbitro exibia ao idiota que, não sendo capaz de, com a bola nos pés, se mostrar superior ao adversário, usou o físico.

E tenho uma imensa vergonha de um tal José Couceiro.

Nem é dirigente, nem é treinador… é um daqueles sobreviventes que sobrevive à custa de tanto dobrar a espinha ante os seus hierarquicamente superiores.

Um técnico com “eles” no sítio tinha-se antecipado ao juíz da partida e mandado retirar de campo as duas criancinhas mal comportadas.

Comigo, nessa noite iam para a cama sem jantar. E a Federação Portuguesa de Futebol que já anunciou que as coisas não vão ficar assim, devia prever que há quem não perca a memória.

Não há muitos anos ainda um tal Amoreirinha – que por acaso é daqui, de Alverca – pontapeou um adversário na cabeça… e o que aconteceu?

Foi quase transformado em herói nacional.

O menino Amoreirinha, se calhar andava a arrumar carros, mas futebol federado não jogaria mais. Nem este “Mano”, nem este “Zequinha”.

E ao tal Couceiro… se houvesse alguém a quem restasse um pouco de vergonha na cara… era pura e simplesmente despedido por incompetência.

O senhor Scolari tem uma dúzia de engraxadores que lhe podem polir os sapatos, só no eixo Baixa-Chiado.

É verdade. Tenho vergonha de ser português.
Agora, tenho.

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