quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Quando é que 2+2 Não são 4?... Quando a Conta Está Errada!

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LIBERDADE
[Fernando Pessoa]

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para lere não o fazer!
Ler é maçada,estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta...
... a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Não sou, exactamente, um "pessoanista", mas é evidente que o li e tenho a sua obra entre a cerca de seis centenas de livros que neste mesmo momento me rodeiam. Que sempre me rodeiam quando estou neste espaço de minha casa. O meu canto. O único sítio do Mundo onde consigo sentir-me bem. Esta paragem forçada na minha actividade profissional confina-me a este espaço... nos períodos em que as obrigatórias visitas aos hospitais me permitem estar em casa.

(E o raio dos 5 km que o médico me obriga a fazer diariamente a pé, que, por acaso, atém nem estão a resultar pois, depois de os mediamentos me terem... 'inchado', caí para os 85 quilos e daqui não consigo baixar. Quem me conhece fica com uma ideia de como estou... quase quadrado, ou cúbico, a três dimensões que é como me vêem.)

Mas este tópico é para falar da nossa actual situação económica. Nossa, da maioria dos portugueses. Da esmagadora maioria de nós.

Já agora, e para memória futura, eu não sou, nunca fui nem nunca serei um português puro, isto porque, puramente nasci e hei-de morrer Alentejano. Não entrarei em comparações de espécie alguma - e sou capaz me lembrar de uma dúzia delas, não acredito é que vocês tenham a mesma sensibilidade!...

Infância sofrida - que não miserável, entenda-se -, mudança para Lisboa que deixou algumas marcas, caminho sempre cheio de escolhos [por descriminação, pois!] que trilhei, perdoem-me a imodéstia, brilhantemente. E, o mais importante, e aquilo de que mais me orgulho... sem NUNCA, mas nunca mesmo, ter 'pisado' alguém para chegar onde cheguei.

E aonde é que cheguei? Infelizmente acabei por me diluir no grande rebanho onde, ao contrário do velho ditado, 'quem tem um olho' não é, definitivamente, rei de coisa nenhuma. Levado na vaga apenas engrossei a anónima massa dos 'acorrentados' ao... dever. Sempre ao dever.

Mas volto atrás. Estrebuchei sempre, mas sempre acabei 'engolido' pelas massas.
Nos anos 70 (quarto final, claro) ousei enfrentar quem de mim mais não queria que fosse 'bala para canhão'... sofri represálias por isso! Hoje voltaria a fazer o mesmo.

Mais tarde, já como Jornalista e trabalhando num título já desaparecido, voltei a ter que 'explicar', está bem, com uns berros e empurrões, que, se não tenho quatro patas nem o corpo coberto de lã, tão pouco faço 'mé-méeee', me descartassem do bando de ovelhas que julgavam comandar.

E hoje estou na mesma!

Mas este tópico é para falar da nossa actual situação económica. Nossa, da maioria dos portugueses. Da esmagadora maioria de nós. Daí aquela referência a Fernando Pessoa...

Não consta - e não poderia constar por que não seria verdade - que eu perceba alguma coisa de finanças...

Contudo, olho à minha volta e, assente naquilo que previamente já tinha deduzido - que para que uma economia cresça, é preciso que haja transacções (para os mais... mé-méeeeeee: é preciso gastar dinheiro) logo vi que não nos tínhamos espalhado ao comprido mas que nos haviamos deitado à frente de um ciclindro que, obviamente, passou por cima de nós. Ficámos tipo... folha de cartão!

Despedir e mandar para o Fundo de desemprego significa: alienar descontos e contribuições (que entrariam para os cofres do Estado) e, por mais miserável que seja - miserável x 600.000 ainda dá alguma coisa - por o Estado a pagar o que os patrões devian pagar, não despedindo. E, por favor, digam-me qual a parte que não perceberam...

Nas empresas públicas - dou o exemplo da RTP - mandar alguém para casa com 150 mil euros de indemnização, sendo que, graças aos chorudos ordenados que recebiam, e porque, naturalmente vão para o fundo de desemprego, vão ainda receber compensações consideráveis, bem acima - muitooooooooo acima daquelas que um simples canalizador obterá.
E quem paga? O Estado!

Cortar ordenados e suprimir subsídios de férias e 13.º mês a quem ganha mais de 1.000,00 euros - falamos dos funcionários públicos, que todos os anos trocavam de carrinho; que de dois em dois anos trocavam de casinha; que, por uma questão de statuos, pelo menos uma vez por semana iam, com a família, almoçar ou jantar a um restaurante - anula todos os pressupostos anteriores.


Porque não tinham, de facto, dinheiro para trocar de carro (e recorriam a empréstimos na banca), porque não tinham, de facto, dinheiro para trocar de casa, e renegociavam os empréstimos antes feitos na banca e porque, em definitivo, deixam de comer fora. ~

A esmagadora maioria vai, também, deixar de pedir um empréstimo à banca para ir passar férias a Punta Cana e isto tudo o que dá?

A banca perde dinheiro - quando necessitava dele mais do que nunca para pagar os empréstimos que ela própria contraíra, de forma a satisfazer os pedidos de empréstimo dos particulares - os restaurantes ficam com menos clientes, menos receitas, logo, menos impostos (a única coisa que pode financiar o Eastado) para pagar; os negócios mais pequenos... fecham (lá se vão mais impostos e, pior, mais desempregados aos quais é preciso pagar o fundo de desemprego) e, à volta de tudo isto vão aparecer meia dúzia de manganões que hão-de descobrir uma forma de ganharem dinheiro com a desgraça dos outros.

Não encaixa neste quadro mas... que vão os bancos fazer com as dezenas de milhar de casas - basta ler os jornais - que lhes estão a ser devolvidas todos os dias por cidadãos que ficaram sem hipóteses de as pagar? Desmontam-nas, peça a peça e tentam entrar no negócio do tijolo?
Eu, que tal como o tal jesus cristo que o poeta afiança não sabia nada de finanças, sou tão 'alentejano' que AINDA ACHO que para o Estado se financiar era elementar que o vulgar cidadão tivesse dinheiro para gastar.

Condições para pedir emprestado à banca - com os devidos juros para serem explorados -, para irem comer fora, ou passarem férias em hotéis propocionando a estes lucros mais elevados dos quais os Estado obteria maiores dividendos através dos impostos.

Numa única e simples frase, que neste desgraçado país ninguém tem a coragem de escrever ou pronunciar:


Esta primeira fase de míngua, mas que poderia ser inflectida daqui a dois, três anos... TINHA QUE SER ASSUMIDA PELOS PATRÕES.
Mas alguns deles, como se sabe, pegaram na sua 'malita de cartão' e foram procurar melhor vida na Holanda.

Se, QUEM PAGA TUDO! TUDO! são os desgraçados dos assalariados, ROUBAR-LHES QUASE TUDO não deixa antever grande coisa!

E, como escreveu Fernando Pessoa...
... E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças!

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