quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As Greves dos Transportes

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São uma chatice, é a opinião generalizada daqueles que nunca fazem greve (e há muitos que o não podem fazer devido à precariedade - quem 'inventou' o trabalho precário, com os 'recibos verdes'? Pois, esse mesmo, que há décadas tem uma Fundação com o seu nome - Mário Soares, não tenho porque o esconder - que ninguém sabe o que é, para que serve, se serve para alguma coisa... a não ser para... sustentar a velhice não só do 'patrono', como de todo o clã)...

São uma chatice para os que nunca fazem greve, para os que NÂO podem fazer greve (pelos motivos expostos) e para os que têm medo de fazer greve.

Ora a Greve é um Direito de qualquer trabalhador e a sua única arma contra as prepotências, seja apenas de patrões casmurros - hoje em dia já não acontece - ou, é o que sucede, de governos autistas.

Não há cão nem gato que, hoje em dia, não tenha o seu carrinho. Um por cada maior de 18 anos que compartilham a mesma casa. Ou julgam que a dívida que hoje todos temos de pagar caiu do céu? Eu ia ao banco e queria uma casa... o banco pagava; eu ia ao banco e queria mais um carro... o banco pagava... eu ia ao banco e queria férias na Turquia... o banco pagava.
Ninguém percebeu que o banco não tinha tanto dinheiro para acudir a tanta gente «tão bem na vida», e o banco pediu emprestado a outros bancos para poder satisfazer o despesismo dos tolos que se julgavam no sétimo céu. O fiador dos bancos era, como é óbvio, o Estado.

À primeira tremideira, os primeiros começaram a falhar as prestações aos bancos... estes, a quem lhes tinha emprestado o dinheiro... sobrou para o Estado. Isto é, para TODOS.
Mesmo para mim, que não gozo férias há mais de 30 anos.

Mas retomamos a linha de raciocínio, entretanto interrompida.
Não há cão nem gato que não tenha, pelo menos, dois carros em casa.
Depois, o combustível começou a subir de preço. E os seguros...

«Não há crise, arrumamos o popó» - mesmo pagando seguros e revisões periódicas obrigatórias - «e vamos para o comboio».
Ainda assim, há quem, morando a 1500 metros da estação dos caminhos de ferro não abdique de levar até lá o popó...

Entretanto, e - eh pah! será coincidência??? - no consulado do 'engenheiro' Sócrates a CP, dou o exemplo da CP, escavacou-se toda.

Mas explico porque sei o que aconteceu e não sou de enterrar a cabeça na areia...

Há vinte anos - e eu ando diariamente de comboio há exactamente 30 anos - na ânsia de arranjar 'jobs for all his boys' assistimos, impávidos e serenos, todos - eu confesso que achei estranho, mas também digo que não percebi - ao retraçalhar da empresa.

Havia uma empresa, a CP (Caminhos de Ferro de Portugal), que garantia - pode parecer exaustivo mas vale a pena o esforço - as ligações suburbanas de Lisboa e Porto, as linhas inter-regionais, as regionais, as de longo curso - entretanto optimizadas com os 'Intercidades', primeiro, e depois com os Alfa, de alta velocidade - com o transporte de mercadorias e com a manutenção da linha férria - fisicamente, dos troços de carris.

A CP tinha um Administrador, ou Director-geral, e depois subalternos que dirigiam cada uma daquelas valências.

Chega o Governo Socialista, com 'paletes' de favores por pagar e que faz? - repito, isto é só um exemplo, multipliquem-no por todas as outras empresas públicas e perceberão porque não vão mais receber subsídio de féria nem de natal - "retalha" tudo.

Os suburbanos passam a quatro na zona de Lisboa e não sei quantos na do Porto. Criam-se sub-urbanos em Coimbra. E como os novos administradores eram os que estavam abaixo no escalão hierárquico... foi «necessário» equipará-los, em termos de vencimentos, àquele que antes era o seu chefe que, por sua vez, teve que ser aumentado para não ficar melindrado.

Mais, uma rede que era única e se complementava desde há quase 200 anos é desmenbrada.
Passa a haver suburbanos, regionais, interregionais, longo curso e longo curso especial. Para além dos internacionais.

Mais ainda, separou-se a carga do transporte de passageiros, usando, exactamente os mesmos pressupostos...

Ainda mais, desafectou-se a rede de carris por onde os comboios têm, necessariamente, que andar, do resto... e o esquema de 'manda-chuvas' repetiu-se.

Façam as contas. A três/quatro administradores - com direito a carro, entre outras coisas - por cada uma destas desafectações... sem os PREJUDICAR em relação ao que já ganhavam...

Mas os passes, os bilhetes e os fretes - no que diz respeito à carga - subindo indexados à taxa anual de inflacção, se há 20 anos davam para pagar a UM Administrador (com os seus adjuntos, ok) já não dão para pagar a quase meia centena (por baixo, muito por baixo) de Administradores (sempre com os seus adjuntos e assessores) 'nascidos' após o 'retalho' da empresa. E continuo a falar, apenas da CP... acrescentem-lhes as outras onde aconteceu o mesmo.

Os 'boys' precisavam ser recomopensados.

E que é que primeiro pagou estes custos?
Não sejam cínicos!

Foram os trabalhadores da CP que, por acaso, só ficaram atrás dos pilotos da aviação civil em termos de salvaguarda dios seus direitos.

E para continuar a pagar honorários quase pornográfricos a 'gestores' de meia-tigela. a CP 'carregou' onde todos carregam. No mais fraco. E ainda beneficiam do facto de maquinistas e revisores insistirem em ficar em Sindicatos separados. Daí, quando os Maquinistas fazem greve, os revisores se prestarem a controlar os transportes (autocaurros) alternativos... ou prestavam, porque agora já ninguém se importa com alternativos, e este NINGUÈM não são, nem os Maquinistas, nem os Revisores.
É a CP.

E o que é que vocês, ranhosos, fazem? Invectivam os trabalhadores. Os Maquinistas. Sim, porque até fazem piadas quando os Revisores não aparecem.

Sem Maquinistas não há comboios.
Sem comboios não há transporte para 80% da população que usa o comboio para ir trabalhar.
Os outros 20% lá vai de carrinho e não diz nada, tentando passar despercebido.

Quanto aos que esperam nas estações, mal aparecem as televisões prestam-se a babosear argumentos do género «se eles não querem trabalhar que não trabalhem, mas não podem deixar-nos uma 'imensa' maioria aqui no cais, à espera. Só querem saber deles...»

«Eles» estão a exercer um direito que, infelizmente, muitos outros não podem exercer, mas a maioria ainda pode e só deveria mostrar-se solidária.

«EU ESTOU AQUI. SEI QUE NÃO HÁ COMBOIOS MAS QUERO, COM A MINHA PRESENÇA, MANIFESTAR A MINHA SOLIDARIEDADE PARA COM OS MAQUINISTAS»

Isto nunca ouvi dizer.
Nem aos Funcionários Públicos, QUE TAMBÉM FAZEM GREVES, em que alguns (pelo menos) Maquinistas já bateram com o nariz na porta quando precisavam, com urgência, de qualquwer documento.

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