Há, aqui onde moro, um café que fica fora dos eixos comerciais e de serviços e que, por isso, tem fraca afluência. Somos quase sempre as mesmas quatro ou cinco caras. Curiosamente, todos fumadores.
Íamos chegando e, com a bica e uma garrafa de água ou um copinho de tinto à frente falávamos das coisas da vida. Das notícias dos jornais… Os mais vividos sempre encontravam uma história para contar.
A simples paragem para beber qualquer coisa acabava por se prolongar por meia hora, três quartos de hora. O copinho de tinto era multiplicado por três, o mesmo acontecendo às imperiais. O café era sempre solitário, mas às vezes, porque um dia não são dias, acabava por ser substituído por uma cerveja fresquinha.
Há três meses só conhecia um deles de vista. Agora já perguntamos e o fulano tal, hoje não aparece? Claro que, pausando a conversa e fazendo a passagem entre um copinho e o seguinte, sacava-se de um cigarro. Como disse, vício comum a todos.
“E como é que vai ser a partir de Janeiro?”, perguntámos ao proprietário. Que não sabia. O negócio não corre bem, a clientela é pouca e os ganhos quase superados pelas despesas. Fora de questão a instalação do equipamento de extracção de fumos.
Há pouco passei por lá. O café estava vazio.
Entrei directo ao WC. Ia apertado. Na volta a minha bica estava na mesa do costume, peguei na chávena e pu-la em cima do balcão dizendo que não ia ficar na conversa, era só beber e sair à minha vida.
“Foi o que os outros fizeram… O tretas ainda bebeu dois copos, mas depois puxou de um cigarro, disse-lhe que não podia fumar e ele foi-se embora”, desabafou o proprietário, deixando ainda escapar numa espécie de suspiro: “Se já estava mal, agora ainda ficou pior.”
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