domingo, 16 de março de 2008

País Filho da Puta

Os factos, já os sabia.
Tinha lido.
A conclusão do processo é que me surpreendeu.
Veio tudo n’O MIRANTE.

Dois putos, entrando no comboio em Alverca e só porque sim, chegaram-se junto a um passageiro e, presumo que delicadamente, pediram-lhe que lhes oferecesse o seu telemóvel.
Este, porque provavelmente tinha estima no seu aparelhinho, não os satisfez e foi vítima de agressão com socos e pontapés (leiam aqui).

Um dos meliantes ainda sacou de uma brinquedo em forma de bastão com dois palmos mais ou menos bem medidos, que só não usou porque entretanto apareceu o revisor que… apelou à calma (sic).

Conjugaram-se os astros para que, com a coisa mais ou menos controlada, o comboio parou na estação seguinte, a Póvoa, onde estava uma patrulha da divisão Metro/CP, da PSP, à qual o agredido apresentou queixa, identificando os agressores.

São jovens. Não pensam.
Aguadaram o julgamento em liberdade e a Senhora Juíz, quando do julgamento, mesmo reconhecendo que os actos provados tinham sido graves, mas porque os candidatos a meliantes ainda são dois jovenzinhos de 17 e 18 anos, suspendeu-lhes a pena de dois anos de prisão, que enquadra o crime, por… dois anos.

Quando em trabalho, faço a viagem Lisboa-Alverca todas as noites e já tive de suster a respiração, não por ameaça concreta, mas por latente situação que pode descambar para o roubo com ou sem violência.
Sei que não estou livre destes jovens a quem, juízes como esta Senhora – que, evidentemente, não andam de comboio às duas da manhã – acham poder dar uma segunda oportunidade parecendo que não percebem a festa que terá sido quando ambos terão chegado à sua zona de residência e acolhidos como heróis.

E, é mais do que certo que, por mais que não seja para poderem gabar-se do mesmo, outros compinchas já planearam – provavelmente já perpetraram – valentia idêntica.

O que aqui está em causa é a defesa do direito de qualquer cidadão em poder usar um transporte público sem se sentir amedrontado, muito menos atacado, seja física, seja verbalmente, por estes jovens heróis.

Imagino-me cansado, ao fim de mais de 12 horas de trabalho, mal comido, com vontade de me deixar cair na minha cama, medindo a olho os quilómetros que me separam da estação de Alverca – de onde, depois, ainda tenho de fazer dois quilómetros a pé até minha casa – e, de repente, um daqueles ganguezinhos que não raro entram ali pela gare do Oriente, se me dirige a pedir-me, de bastãozinho na mão, o meu telemóvel.
Ou o meu relógio.
Ou a minha pasta que, parecendo uma vulgar pasta de computador portátil, não leva mais do que os jornais do dia que comprara de manhãzinha na ida para o trabalho.

Que faço?
Dar-lhe o que é meu, nem pensar.

Vejo-me a tentar manter a calma, a meter a mão no interior do casaco e, não vá o diabo tecê-las, antes de dizer… surpresa! ora vejam, disparar a arma para a qual tenho licença de porte e uso para defesa pessoal.
O que me agonia é ter quase a certeza de que não encontrarei, quando do julgamento por ter disparado, a mesma Senhora Juiz para deliberar, tendo em conta a minha conduta irrepreensível, enquanto cidadão que até paga impostos, e livrar-me da prisão.

Filho da puta, País este.

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