domingo, 16 de março de 2008

Ao Contrário de Vocês... Nós Sabemos Respeitar

A companheira do senhor José Pinto de Sousa, por acaso primeiro-ministro de Portugal, gasta hoje mais uma página da notícias-magazine – ela é jornalista - com um mui sublime acto de propaganda pró-governo.
O motivo: passaram 78 dias (é nisto precisa) desde que entrou em vigor a Lei-anti-fumadores e parou o espernear por parte destes.

Mentira. Fossem os fumadores tão fundamentalistas quanto os que lhes deu para embirrar com eles e teríamos por aí uma guerra-aberta.
Ao contrário de vocês, nós sabemos respeitar...

De certeza que, até para bem da harmonia do (seu) lar, seria preferível que as preocupações do PM se centrassem em dois ou três casos (que seriam sempre de polícia) de alguns fumadores fundamentalistas do que ter que aturar 300 mil professores em manifestação.
Mas os amaldiçoados fumadores deram a todos uma grande lição cívica.
Apesar de hoje nos sentirmos – eu sinto-me – completamente descriminados.

É verdade! Saio para desentorpecer as pernas e já dei comigo a olhar com alguma inveja – principalmente nestes dias em que choveu – para o interior dos cafés onde algumas pessoas lêem o jornal, fazem as palavras cruzadas… passam o seu tempo.

Eu, para passar o meu tempo, desço a Avenida, vou ao fundo da Quinta da Vala e volto para trás pela Estrada da Estação. Atravesso a Nacional 10 frente ao cemitério velho, vou até ao largo do Mercado, atravesso de novo a Nacional 10 e… desço a Avenida.

Apetecia-me sair da chuva. Apetecia-me sentar-me numa mesa de café e ler o jornal.
Fazer as palavras cruzadas enquanto fumava um cigarro...
Não posso.
Está-me interdito.

A Lei-anti-fumadores está ferida de inconstitucionalidade porque, para proteger uns, descrimina ostensivamente outros.

Devia ter sido como em Espanha. Cada proprietário era livre de decidir se na sua casa se fumava ou não. Sem essa ridícula necessidade de se instalar um equipamento que ainda ninguém conseguiu encontrar no mercado.

Como eu sou obrigado a passar pelos dísticos que me avisam que lá dentro não se pode fumar, porque é que os que não querem apanhar fumo não terão de ser obrigados a passar por uma ou duas casas até encontrarem uma onde não se sentissem incomodados?

Os que queriam fumar saberiam que não podiam entrar nuns, e os que não suportam o fumo, sabiam que nesses não deviam entrar.
Procurassem um onde fosse proibido.

Democracia é poder escolher.
Com o senhor José Pinto de Sousa estamos a aprender que, a bem da nação, escusamos de nos preocupar com isso, que alguém no governo escolherá por nós.

António de Oliveira Salazar pensava exactamente da mesma maneira.
Porque haveria o Zé Povinho de se preocupar a escolher?
Não, ele providenciava as escolhas e o povo só tinha que acatar o emanado de cima.

Agora, o governo socialista (!!!) decidiu… decidir quem é que pode usar piercings e tatuagens.
Um dia destes decidirá quem é que pode andar sentado nos transportes públicos, e quem é que terá de viajar de pé…
Depois seguir-se-ão os restaurantes para quem vai de fato e gravata;
as casas de banho e os bebedouros públicos que podem ser utilizados por uns, e por outros…
Ainda se lembram da África do Sul do apartheid?

Embora a Serra da Estrela fique no meio, em linha recta Santa Comba Dão não é tão distante assim da Covilhã. E, esteja lá onde estiver, o velho Botas há-de estar a olhar para nós com um sorriso malandro nos lábios.
E orgulhoso deste José Pinto de Sousa.

Que, infelizmente, não tinha mesmo jeito para fazer projectos de casas tipo maison, com marquises de alumínio e teve que se dedicar à política.
Para mal dos nossos pecados.

Eu tenho uma ideia!
Porque não avançar – e o mais depressa possível – com a avaliação dos nossos políticos?

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