quarta-feira, 12 de março de 2008

E os Burros São Eles…

Não há muitos dias que li, ainda que de relance, um dos opinion-makers da nossa praça a referir-se em termos menos graciosos aos concursos que assentam na Cultura Geral e que os diversos canais de televisão transmitem. O melhor exemplo é, sem dúvida, o “Quem Quer Ser Milionário”.

O “Preço Certo” conquistou o seu espaço porque é um jogo de sorte pura – mesmo que se tenha mais ou menos a ideia de quanto custa uma depiladora para… homens (!!!) – até porque se for o último a responder, pode acontecer que um dos três anteriores a palpitarem já tenham acertado, e porque junta o povão.

Vejo e entretenho-me.

Ora, se o objectivo é esse, o de entreter os telespectadores, há muito que a aposta foi ganha. E depois não concordo nem um bocadinho com os militantes da maledicência que – não será dor de corno? – acusam o bonacheirão do Fernando Mendes de interesseiro e abrutalhado quando o tema descai para a comida.

O Gordinho gosta de comer e não o esconde; fala de petiscos, brinca com a sua gordura mas expõe-se totalmente.

Isto é, dá – propositadamente, tenho a certeza, eu que já tive o privilégio de o cumprimentar no Restaurante A Floresta de Moscavide (um ninho de lagartos, sem ofensa, até porque lá tudo é bom, do serviço à qualidade da comida) -, dizia eu, dá o flanco porque ele é assim mesmo e está-se nas tintas para os falsos moralistas.

E o programa tem o sucesso que tem porque é ele a apresentá-lo.

Imaginem – não é difícil porque foi o primeiro a apresentá-lo – o Jorge Gabriel (que no já jurássico ano de 1991 foi meu companheiro na Volta a Portugal, ele pela TSF, eu pel’A Capital, mas fazendo a Volta juntos).

Trazia-se um bolo para lhe oferecer? Um boneco que salta de uma caixa?
Profissional imaculado, como o é, o Jorge levaria a brincadeira, mas o Gordo é o Gordo. Está muito mais próximo do tal povão, que é o alvo do programa, e que municia o grosso dos concorrentes.
O “Preço Certo” está bem entregue.

O que a seguir vou escrever não quer dizer que o “Quem Quer Ser Milionário” não está bem entregue ao mesmo Jorge Gabriel.

Não! Antes pelo contrário…
Mas desviei-me um pouco do objectivo deste artigo.

O que está em causa não são os concursos, não são os apresentadores, mas sim… os concorrentes.

É confrangedora a preparação – sendo que o Concurso apela à Cultura Geral – dos concorrentes.

Hoje mesmo, há minutos atrás, um jovem estudante de Medicina é confrontado com uma pergunta – e só tem que escolher entre quatro respostas, nem tem que levar os livros decorados – sobre um caso médico… não soube responder.

Repito: um estudante de medicina não conseguiu identificar entre quatro termos médicos, aquele que correspondia à resposta da pergunta que lhe foi feita. Deus nos acuda de cair no seu consultório. Digo eu que sou agnóstico!...

Como seria de esperar, os candidatos a concorrentes deste “Quem Quer Ser Milionário” são, na esmagadora maioria – para não arriscar o na totalidade -, mais jovens e vindos de um extracto social bem mais alto do que as cabeleireiras, as donas de casa e os aposentados que preenchem o “Preço Certo”.

A vida – por mais tempo de antena que o PS nos faça pagar (claro que somos nós que pagamos!) – está mal para a esmagadora maioria e só o “carneirismo” leva a que larga – por enquanto – franja dos “comidos” ainda ache que os professores não têm razão.

Os jovens não têm perspectiva de futuro, não têm casa para morar, não têm empregos… vale-lhes a esperança no Euromilhões e, aos mais desenrascados (ou inconscientes?) o “Quem Quer Ser Milionário”.

Com que cara – se é que alguém lhe ensinou esse valor, o de ter vergonha na cara – aquele jovem estudante de medicina aparecerá amanhã na faculdade depois de ter falhado uma resposta de Trivial, ligada à área que era suposto ele dominar?

Mas o drama nem foi posto a descoberto hoje. Não!

Basta todos os dias ficarmos à espera deste… concurso, para ver que, gente com preparação superior à média nacional tropeça em perguntas de algibeira que qualquer pessoa da minha geração – aprendíamos os rios e seus afluentes, mais as linhas férreas, não só da… Metrópole, mas também de Angola e Moçambique… na 4.ª Classe – responderia com muito maior facilidade.

Refraseio: o drama nem é este.
O Drama é que serão estes jovens que daqui a meia dúzia de anos vão mandar em nós.
Que o Diabo nos ajude!...

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