O TeleJornal da estação pública abriu hoje com imagens chocantes de uma já espigadota aluna a lutar com uma – aparentava, pelo menos – quarentona professora, pela posse de um telemóvel que esta lhe terá apreendido.
Antes da indignação, tentamos ser objectivos.
A professora foi levada a tirar o telemóvel à moçoila – que por acaso já tem bom corpo para levar uns chapadões na cara – porquê?
Porque sim? Porque embirra com telemóveis? Porque embirra com a moçoila?
Eu já não acredito no menino jesus nem no pai natal – e assim que descobrir como é que ele põe os ovos, deixarei, de certeza, de acreditar no coelhinho da páscoa -, por isso sou levado a deduzir que a adolescente mal educada estava a usar o aparelhilho no decurso da aula.
O que fará em todas as aulas, mas na desta professora as coisas deram para o torto.
Pelo meio deixo uma confissão: eu jamais seria professor. Não, neste momento. Aliás, não, desde de há duas décadas para cá.
E não seria professor porque, provavelmente, seria expulso pelo Ministério da Educação, coagido a isso por veemente protesto de uma meia dúzia de pais.
Retomo o assunto, tentando não confundir o leitor.
Ser professor, hoje em dia, é uma profissão de risco. Não tenho a mínima dúvida em escrever isto e sustento-o.
Jornalista enviado-especial para cenário de guerra? Uma brincadeira. E depois, não acontece isso todos os semestres.
O professor tem de tentar sobreviver oito ou nove horas por dia, cinco dias por semana, 40 semanas por ano.
São uns heróis.
O drama é que a actual… (falsa) forte personalidade dos jovens é mentira.
É falta de educação; é falta de respeito para com terceiros; é uma manifesta falta de cultura social. Cada um destes jovens senhores do seu nariz pensa que o mundo gira à volta do filho da mãe do piercing que tem implantado no umbigo.
Depois, são malcriados por culpa dos pais.
E não me venham com cenas, tipo, ah! os pais trabalham todo o dia, não têm tempo…
Ok, eu caminho para os 50 anos e a minha realidade não tem nada a ver com esta, mas a minha mãe, era eu pequenininho, trabalhava no campo e na época da monda do grão, a tarefa era para cumprir entre as 4 ou 5 da manhã, até às 8 ou nove. E o meu pai teve que emigrar…
Não foi por isso que eu não aprendi a respeitar os mais velhos, os professores, os chefes… conforme os degraus que todos subimos ao longo das nossas vidas.
O que há minutos atrás vimos era impensável no “meu tempo”, mas não deveria acontecer nos dias de hoje.
Uma adolescente em luta corpo-a-corpo com uma professora bem mais idosa que a sua própria mãe e o resto da turma a rir-se, enquanto um deles filmava a cena.
Que depois pôs na Internet.
Inconscientemente, melhor, sem o mínimo de tino – o que o coloca ao lado da valentona – proporcionou que uma das muitas, muitas, muitas – demasiadas – cenas de violência em salas de aulas tenha saído daquelas quatro paredes.
O que, infelizmente, teria acontecido de imediato se a professora – a senhora até é franzina, talvez por isso, mais não fez do que esquivar-se às investidas da recém desmamada armada em gente grande que luta pelos seus direitos -, dizia, o mesmo não teria acontecido se a professora (ou se fosse um professor) lhe tivesse espetado uma bela bofetada com quantos dedos tem na mão.
A notícia de abertura do TeleJornal teria sido outra.
Infelizmente teria sido outra e teríamos tido os pais – que nem merecem o nome, porque não sabem educar os filhos – a perorar contra a pobre da professora.
A questão que a nossa sociedade tarda em entender é que, com este ambiente, os professores não conseguem – não podem – levar a bom termo a sua missão.
Há algo de comum entre ser-se professor e ser-se jornalista, talvez por isso eu os entenda. E tenho uma irmã – mais nova – que é professora. E sou obrigado a reconhecer que a sua actividade comporta maiores riscos que a minha, mesmo que meia dúzia de atrasados mentais (com a ressalva de que não me refiro a quem sofre de doenças limitativas), só porque são apaniguados de uma determinada cor, tenha vontade de me chegar a roupa ao pelo por causa das minhas opiniões.
Quando os professores se queixam, se manifestam, quando reclamam – mesmo em relação à questão de avaliação (*) – o cidadão, que tem filhos na escola, que conta com a escola para colmatar a sua própria falta de presença (não se escandalizem, é verdade, há pais que lamentam que os filhos só estejam 12 horas na escola, porque com eles em casa às sete da tarde já não podem ir jantar fora), quando os professores se queixam… têm razão.
Há “arcanjos” que ainda se perguntam, raiva esmagada no ranger de dentes, porque é que os professores têm medo da avaliação?Perguntem-se, se - como eu penso, são pessoas de bem - como é que os professores AGUENTAM ser o elo mais fraco desta política de educação. Sem preconceitos.
Não é medo da avaliação. Pelo menos para a maioria porque em todas as profissões há bons e maus profissionais,
Será aquela nuance, normalmente escondida do grande público.
Um professor, hoje em dia, é um – passe a expressão – boneco nas mãos dos seus alunos.
Porque se estes não são ensinados a respeitar os próprios pais, como é que respeitarão um desconhecido?
E depois os jovens são, está provado que são, mais espertos até de quem escreve as Leis e os regulamentos.
Sabem que podem enfrentar um professor.
Sabem que este não pode responder à letra, sob o risco de se ver acusado de exercício desajustado de poder.
Que poder?
Que poder têm hoje os professores?
E, valha-nos aquele que a maioria ainda acredita existir e se dá por deus.
Deus uma ova.
* Tenho uma estória engraçada, que aconteceu há para aí 20 anos.
Existia, aqui em Alverca, uma rádio, das chamadas piratinhas. Eu era o Director de Antena, o que significa, director-executivo.
Personagem mais, chamemos-lhe… “respeitável” – eu era operário fabril e ele estudante de medicina – foi convidada pela Escola Secundária Gago Coutinho, aqui em Alverca, para conduzir uma aula sobre Comunicação Social.
À ultima hora não pode estar e uma aluna do curso – que também era colaboradora da Rádio (a Elsa Frazão) – pediu-me para que lá fosse porque “o pessoal está muito entusiasmado com a rádio”.
E eu fui.
Ainda eu não estava a falar há cinco minutos e já o bueréré se sobrepunha ao que eu dizia. Olhei a professora que me devolveu o olhar, desarmada.
Desci do estrado – que coloca o professor um pouco acima do plano onde ficam os alunos – dirigi-me ao “palhaço” (uso o termo porque ele a ele se proporcionou, num claro decalque do que aconteceria nas outras aulas) e mandei-o para a rua.
Como eu estava, claramente, fora da área docente – e porque o rapazola, não me conhecendo, não sabia como reagir – não desistindo eu, junto à cadeira que ele ocupava, de o mandar sair imediatamente, ele saiu.
E os outros, que até se mostravam interessados no Jornalismo, participaram vivamente na “aula” sem que mais alguém se atrevesse a… ser “engraçado”!
Eu sei que isto não pode acontecer com o professor, no dia-a-dia.
Só porque amanhã vai ter o mesmo engraçadinho na mesma aula…
Isto foi só um exemplo, mas tinha que o escrever aqui para sustentar o que a seguir vou escrever.
Naquela turma, naquela escola – Carolina Micaelis, no Porto – aquela franganota não punha mais as asinhas…
Os pais que se preocupassem com a sua educação. Na MINHA aula… NUNCA MAIS.
Agora, mesmo os pais exemplares que têm filhos exemplares – que são objectivamente prejudicados por estas “madonas” – são capazes de sair em defesa da professora?
Tenho, infelizmente, a certeza de que não.
Primeiro, porque isso obrigaria a mais uma preocupação… estar atento e responder em consciência ao mais pequeno pormenor do que acontece na escola.
Depois, porque – mentes pequenas, pensamentos descartáveis – a maioria dos pais acha que os professores não tem razão.
Isso viu-se nas últimas semanas, por causa da luta dos professores.
Li alevoseidades extremas. Insanas.Porque é que os Profs não aceitam "esta" forma de avaliação?
Porque não têm a certeza da justeza dessa própria avaliação...
ESPLICADO OU É PRECISO FAZER UM BONECO????
Não vale a pena insistir.
O exemplo hoje dado a conhecer a todo o País pela RTP corta tudo pela raiz.
Que valor terá a avaliação de uma professora, mais de 40 anos, mãe; provavelmente… avó, que é publicamente, perante toda a turma, desautorizada?,Que é
VIOLANTADA, por um
rebento de mulher (porque já não era tão jovem assim)?
Para quem pergunta…
porque é que os professores têm medo de ser avaliados?
Eu respondo:
quem defende os professores que esborracham o nariz, num soco bem direccionado num aluno que leva para a Escola a má – a falta – de educação que lhe é dada em casa?
O que cultivamos em casa já não serve – definitivamente, já não serve – para estabelecer um determinado padrão.
E lembro-me da
“Balada de Hill Street”.O Sargento dizia sempre…
“Let’s Go Out There, But… Be carefull”Este artigo estendeu-se – e teve chamadas à parte – no entanto eu não vou deixar de vincar aquilo que realmente penso.
O que EU PENSO.
Que sei que muitos professores pensam mas eles não podem fazer.
Eu DAVA UM BOM PAR DE CHAPADAS à chavala que vi na abertura do Telejornal.
Se calhar depois tinha que dar ao pai também…