sábado, 29 de setembro de 2007

Todos em pé de igualdade. Isso seria bonito

Isto escrito por um Jornalista pode parecer qualquer coisa muito próximo do lesa-compromisso que todos assumimos em escrever (ou dizer) a verdade, só a verdade, dentro daquilo que conseguimos saber. Mas a verdade.

Enquanto cidadãos, todos temos tendências políticas, todos temos tendências… clubistas. Que é de futebol que vou escrever. Temos uma das profissões mais bonitas que há. Temos acesso a informações que a esmagadora maioria dos cidadãos não tem e temos à nossa disposição meios para as veicular.

E temos que ser honestos e justos porque a tal imensa maioria, estando de fora, começa por acreditar em tudo o que dizemos ou escrevemos. Crescem as nossas responsabilidades.

Mas nós somos apenas um peça no grande puzzle daquilo que é a informação. Porque esta envolve terceiros. Que têm que ser percebidos, cujas palavras não podem ser retiradas do respectivo contexto, que não podem ter um tratamento especial, segundo pertençam, ou não, à nossa tribo. Política ou desportiva. Melhor dizendo, futebolística.

Entremos, definitivamente na área do futebol. Que é sempre um barril de pólvora, à espera que alguém acenda o rastilho. E isto é potenciado pela outra grande facção, a da política.

Quantos mais “casos” forem criados em torno do futebol, quanto mais tempo o simples cidadão gastar a discutir um penalti que o foi ou nem por isso, não está a discutir o que realmente é importante para as nossas vidas.

E o futebol, hoje em dia (quase) totalmente televisionado é o “escudo” que os políticos agradecem.

Houve, num Hospital Público e devido ao uso de um produto fora de prazo (ou seja lá o que tenha sido) levou, depois de meia dúzia de intervenções cirúrgicas aos olhos de outros tantos cidadãos, um caso em que foi necessário fazer a ablação de um olho a um deles? Houve outra que entrou a ver mal e saiu completamente cega?
Quem se interessa?

O que interessa é que houve um penalti mal assinalado – num jogo que não vi (eu não vejo futebol!) – a favor de um dos Grandes e a visão (passe a ironia) do técnico da equipa pretensamente prejudicada, que aceitou o erro do árbitro como… humano (quem é que nunca errou?) é publicada porque cada um dos jornais tem receio daquilo que o outro venha a escrever.

Hoje, porque coincidiu com a minha hora de jantar, vi a primeira do Benfica – Sporting. E foi sem qualquer espécie de problemas que, terminado o jantar recolhi ao meu canto, desvalorizando o facto de ser um Benfica-Sporting. Não me interessa.

Receio, isso sim, que precisando de ser submetido a uma intervenção cirúrgica, não saia do bloco operatório pior do que entrei. Isso sim, devia ser discutido. E devia juntar-se, solidariamente, toda a gente às vítimas. A quem se entrega nas mãos de “especialistas” e sai de lá pior do que entrara.

Quero lá saber se o penalti da Amadora foi penalti ou não? Cagando.

Isto porque não vi o jogo, como não costumo ver. Mas hoje vi a primeira parte do Benfica-Sporting.
E vi o quê? Por exemplo… vi um lance dentro da área do Benfica – parece que houve outro na área contrária, mas na 2.ª parte que não vi – em que um jogador da equipa da casa, num relvado extremamente molhado pela chuvada que se abateu sobre Lisboa terá, ao nele deslizar, tocado um adversário.
Alguém gritou penalti? Só muito timidamente, apesar de tudo, o relator (não, não vou dizer a estação que estava a ouvir) que não consegue, NUNCA O CONSEGUIU, “despir” a camisola.

Depois vêm as “n” “repetições” e, aí… o comentador de serviço – que ignoro quem seja – dá o seu amem. Quem sintonizava aquela estação de rádio, e segundo a côr que perfilhou, vai ter assunto para amanhã, entre um copo de tinto e o seguinte.

Isto despertou um clique na minha cabeça. Ora, se o árbitro – se os árbitros – não têm acesso às repetições da televisão… será justo que os comentadores o tenham?

Descodificando: à primeira, o relator (são jornalistas porquê?) vendo o lance como adepto, puxou a brasa à sua sardinha. O comentador ficou calado. À espera da repetição. E assinou por baixo a opinião do "colega", com quem, a seguir ao jogo, terá ido jantar.

Eu também vi as várias repetições e vi um atleta a tentar defende a sua baliza de estendeu a perna, que deslizou numa relva ensopada e que, falhando a intercepção da bola “colheu” o seu adversário. Que não teria – porque também estava em queda – a mínima hipótese de dar seguimento ao lance. Mas isto é futebol ou não?

(Mas alguém se interessa por isso? Amanhã fará manchetes...)

O árbitro teve uma fracção de segundo para ajuizar o lance. Ele, que está à chuva, como os jogadores, achou que não devia apitar.
Quem estava no camarote, climatizado – refiro-me ao comentador – não se atreveu a afirmar, no momento, que era falta merecedora da penalidade máxima. Depois, vistas as várias repetições, optou por aparelhar com o narrador. E o árbitro – que não tem hipóteses de ver repetições – ficou ali conotado com o facto de ter beneficiado um dos contendores.

Somam-se, semana após semana, as criticas – para não dizer outra coisa – em relação aos árbitros. Porque cometem erros perfeitamente visíveis? Não, porque nas repetições, apresentadas sob vários ângulos, se consegue perceber que erraram.

Ontem, numa curta saída até aos Correios, de onde enviei a prologação da minha baixa médica, à Caixa e ao patrão, no regresso encontrei um amigo e fomos beber um café. Falaríamos de quê? De futebol, pois então…

E, depois de ele – que até é adepto de um grande clube da Cidade do Porto – ter mastigado e cuspido o árbitro do Estrela da Amadora-Benfica, chegando a exigir que o homem – que eu não sei quem foi – fosse simplesmente afastado dos campos de futebol, eu, mui naïfamente – porque ele insistia que o juíz tinha demonstrado não ter estado à altura – disse que os dois jogadores da equipa do seu coração, os dois que falharam os penalties, teriam, naquela ordem de ideias, que sofrer a mesma sanção.

Mais… porque são profissionais pagos – de um forma ofensiva para o português médio – a peso de ouro, se calhar deveriam ser proíbidos de voltar a pisar um relvado.

Que não era nada disso! – apressou-se a responder.
A conversa ficou por ali.

Mas isso deu-me uma ideia, que agora venho aqui expôr.

Que os comentadores, da Rádio ou da Televisão, dêem a sua opinião no momento.
Em vez de esperarem pelas repetições que o árbitro não pode ver.
Que raio de homens são?
Esperam que a televisão lhes dê aquilo a que o árbitro não tem direito, para depois o zurzirem?

Caramba!

O árbitro, depois de ter visto o que os outros viram poucos segundos depois, veio reconhecer que errara.

Eu tenho uma ideia. Acabem-se, nos directos, com as repetições dos lances.

Os comentadores – que ganham (e bem) a vida a cavar sepulturas – teriam que avalizar o lance tal como o árbitro.
Sim… ou não?
Teriam que o assumir.

Mais tarde, no final da partida, ou no dia seguinte, mostravam-se as repetições e via-se quem tinha razão.

E haveria “comentadores” que arriscavam o nome numa apreciação NO MOMENTO.

Teria que haver.

O que é quase pornográfico é que um – o árbitro – tenha uma fracção de segundos para julgar um lance, e que outros, no fofinho, e depois de verem quatro, cinco repetições, o condenem ali, publicamente.
E no caso dos comentadores das rádios, quando sabem que nas bancadas os estão a ouvir.


Haverá algum que tenha a coragem de, até porque não está preocupado com mais nada, abdique do auxílio das imagens de televisão para, com o mesmo tempo que o árbitro tem, dar a sua opinião?
Que depois pode vir a ser desmentida pelas repetições, APÓS o jogo?

Não creio.
Mas, mais do que injusto é desonesto.
E há tanta gente que ganha a vida desonestamente.

Que sabe que o faz, e não demonstra a mínima vergonha por isso.
É nesses que devemos acreditar?
Eu acho que não…

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