DECISÃO QUE É PRECISO TOMAR EM CONSCIÊNCIA
Chamem-me "bota de elástico", démodé... chamem-me careta... na verdade, chamem-me o que quiserem.
Estou-me perfeitamenta nas tintas...
Há 35 anos a televisão que tínhamos não tinha mais do que dois canais.
O primeiro abria com o Telejornal da hora de almoço e fechava às 2.30 da tarde para que, a partir das 15 e até às 19 se transmitisse a Telescola.
Os vossos papás que vos expliquem o que era isso.
Depois reabria às 19.30 até à meia-noite.
Tocava o Hino Nacional, com a imagem da bandeira soprada pelo vento.
O segundo canal só emitia cinco a seis horas por dia.
Das 18 às 23 ou 24.
E a televisão era a preto e branco,.
Os "Gatos Fedorentos" ainda não tinham nascido, e o Herman José andava à procura do seu espaço, vagueando entre canções hiper-pimba (como o Saca o saca-rolhas) e o papel secundário no "Senhor Contente e o Senhor Feliz", cuja principal figura era o meu conterrâneo Nicolau Brayner...
Mas já havia programas de humor.
Naturalmente, muito diferentes dos de hoje.
E, para além do Raúl Solnado - figura mor (espero que o não esqeçam na hora devida) - havia um brasileiro que nos fazia rir.
Badaró!
Só. Um nome só...
Badaró.
E quanto eu me ri nos seus programas...
Eram diferentes. Concedo que nem sequer percebiámos o quanto era diferente. Mas era.
E a gente gostava.
Evoluiram os tempos, cavou-se um certo fosso entre o humor "antigo" e a nova maneira de brincar com coisas sérias. Que posso dizer? Nada contra.
Mas não se esqueçam que falei lá atrás do Raúl Solnado, para mim a grande referência do humor, tanto na rádio como na TV.
De qualquer modo, este artigo visa deixar aqui a minha mui pessoal homenagem ao Badaró.
Morreu, vítima de cancro, no início da semana.
No momento - em tantos casos despudoradamente aproveitado por terceiros para se mostrarem - que é o do último adeus, Badaró teve... quatro antigos colegas a acompanhá-lho no velório.
Claro que a televisão não se interessou. Se o tivesse feito teria arrajnado muita boa gentinha que só quer aparecer...
Mas não...
Factos:
Badaró morreu, vítima de cancro...
as televisões não se interessaram e ele não teve mais do que quatro - procurem o Correio da Manhã - ex-colegas a prestar-lhe a última homenagem.
Mas há ainda outra coisa que é preciso sublinhar...
O Badaró foi suficientemente generoso para, ainda em vida, é evidente, doar o seu corpo à ciência.
Isto é... nem enterrado, nem cremado.
O corpo do Badaró será preservado o tempo que for possível para que os futuros médicos - no caso, da Universidade Católica - poderem trabalhar nele.
Quantos, entre todos os cidadãos nacionais , serão capazes de um gesto tão desprendido como este?
A mim convenceu-me.
Não quero apodrecer dentro de um caixão... por isso estava a preparar a minha cremação. Agora parei. E estou a ponderar a possibilidade de deixar os futuros médicos-cientistas retraçarem-me o corpo morto. Quem sabe, depois de dissecado, quantas portas não posso abrir para a salvação de terceiros?
E, francamente, deixar-me apodrecer seria a pior maneira de marcar a minha passagem por esta vida.
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