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Nota prévia: É com muita mágoa - e alguma vergonha - que tenho que assumir isto. Coisa que NENHUM SINDICATO FEZ.
Foram gozados, como todos nós o fomos, mas foi a eles que o ónus foi cobrado. E não foram capazes de, nem três dias depois, encontrar uma resposta inteligente para a 'manobra' - tiro-lhe o meu chapéu (embora o condene, como é evidente) - prepertada por Alexandre Soares dos Santos, o CEO do Grupo Jerónimo Martins, proprietário da cadeia de supermercados 'Pingo Doce' que, provocatoriamente - pelo menos, leiam as opiniões dos editorialistas dos jornais - ou numa claríssima demonstração de quem é mais forte e de quem 'manda aqui', seja lá o que disso vier a resultar, 'chutou para canto' as manifestações do... 'glorioso' 1.º de Maio.
O homem que, mal se vislumbrou a hecatombe da economia nacional tratou de transferir para um outro país a sede da Holding que congrega todos os seus interesses financeiros, um país onde, por acaso, a carga fiscal sobre as empresas é menor do que em Portugal, ganha dinheiro - foram, segundo os jornais, cerca de 68 Milhões de euros no primeiro trimestre deste ano - cá... e pada impostos [menos impostos] lá.
Ninguém se atreveu a contestá-lo!
[Não é que, de súbito, senti saudades das privatizações pós 25 de Abril de 1974?]
Os comentadores residentes - quem é que, hoje em dia, não precisa, pelo menos de dois empregos? - de todas as televisões, baixinho disseram que era um golpe baixo mas, nos momentos mais apropriados, aqueles que geram os famosos 'sound-bites' sacudiram a água do capote. A empresa é dele...
E chegamos ao 1.º Maio!
1 - a CGTP leva ao palco a 35.ª reposção de um 'espectáculo' com textos decalcados e actores bem piores do que na altura;
2 - o caso da UGT é ainda mais confrangedor; não tem textos nem 'artistas'. Limita-se, ano após ano, a fazer um bocadinho pior que a Intersidical. Eu, em 1977 já trabalhava. Fui, e ainda sou e sempre o serei, sindicalizado; por mais que não seja, para chatear o patrão! Assisti ao nascimento dos 'amarelos'; mal nascidos, mal conduzidos, serão sempre a sombra dos rivais que... para mal dos seus (UGT) próprios pecados, não evoluiram nem um palmito, desde os anos 80. E eles mantêem-se... logo atrás (porque a 'união' dos sindicatos afecta ao PPD - ainda era PPD - foi um nado-morto.)
Tem sido asim ao longo das últimas, muitas, décadas, mas este ano foi introduzida uma nova e inesperada variante...
O Senhor Alexandre Soares dos Santos, provavelmente com 'stocks' no limite da validade legal - não é que os não conseguisse escoar... - como se diz na minha terra, com uma cajadada resolveu matar dois coelhos. E o que é que será que ele não consegue fazer nesta imitação de País?
'Decreta', como Salazar o fez durante o seu consulado, que o Dia do Trabalhador passaria a Dia do Trabalho e ordena que as quase 400 lojas, daquela 'marca' vão abrir ao público ignorando um Feriado Nacional preservado(?) na Constituição da Reública!
E aqui acontecem duas coisas que, aparentemente, NÓS, PORTUGUESES, ignoramos... ou pretendemos ignorar, assobiando para o lado.
As uniões sindicais, ambas, balbucionam algumas críticas mas abstêem-se de tomar uma posição de força. Porquê?
Porque os pobres coitados dos trabalhadores deste, e dos outros grandes centros de retalho nem sequer são sindicalizados porque isso significaria que, no final do primeiro mês de contrato o veriam denunciado pelo patrão. Ganham uma miséria, todos o sabemos. As lojas abrem às dez mas, parte deles, têm que lá estar às 6 da manhã para receberem os distribuidores; o primeiro turno, que deveria terninar às 15 prolonga-se até às 18, ou mais porque quem esteve nas 'caixas' passa para a 'reposição' e os que entram às 14, depois das lojas fecharem, às 23, ficam ainda mais hora e meia, duas horas a fazer... 'reposição' e, em muitos casos, limpezas.
TUDO por um 'gordo' ordenado de (líquido) pouco mais de 400 euros na esmagadora maioria. Safam-se os 'gerentes' de loja e os seus assistentes.
E as centrais sindicais sabem disto. Claro que sabem!... Mas não têm, num universo de, todos os supermercados juntos, mais de 45 a 50 mil trabalhadores, mais do que 40 ou 50 sindicalizados, logo, por defeito, deixam perceber que não interessam. São 'carne para canhão'.
E é, sabendo perfeitamente disto, que este ou - poderiam (ou não são?) - os outros três ou quatro Alexandre Soares dos Santos pérfidamente, usando o 1.º de Maio lança uma campanha de 50% de desconto a quem gastar, em caixa, pelo menos 100,00 €.
E o que é que nós vimos?
Primeiro, e atentem nisto, uma primeira pazada de terra para a cova do sindicalismo, que está morto, mas que ainda não o percebeu. Houve, é evidente que houve, MAIS GENTE, ATÉ À PORRADA, nas lojas daqueles quase 400 supermercados que nas manifestações, acumuladas, das duas 'uniões' sindicais que - e é este o primeiro sintoma do fim - preferiram continuar as suas 'festas', com alentejanos de preto chapéu de aba - que JÁ NINGUÉM USA NO ALENTEJO -, 'pescadores' de camisa de flanela aos quadrados e 'operários' de fato de macado de ganga azul...
Recordações. Apenas recordações de um tempo que já não volta...
É disso que vivem.
Mas voltemos aos supermercados...
Uns, obrigados a trabalhar (com compensação?, não sei!) e muito... tal a afluência de gente.
Outros mandando às malvas o 'folclore' das centrais sindicais e que atropelaram, esmurraram, ofenderam... só para levarem mais 'packs' de cerveja e garrafas de whiskie daquele 'marado'!
Mas tinham que ter cem euros para poderem ter desconto...
O que é que ficou por pagar desta vez?
A prestação do carro? O frigorífico novo? As explicações dos filhos?
Não interessa!
Neste último - o diabo seja cego, surdo e mudo - 1.º de Maio, Alexandre Soares dos Santos teve mais gente - e, humilhação das humilhações - mais polícias a controlarem a sua... 'manifestação' do que as duas centrais sindicais juntas.
E o 'povo' faminto, espezinhado... espremido pelo Capital, cagou-se nas promessas dos sindicatos e foi a correr gastar CEM EUROS num supermercado de um capitalista!
Que já prometeu que não vai ficar por aqui... e eu acredito.
É que a mensagem não é só para as inóquas centrais sindicais, é também para quem nos governa. E é irrelevante quem nos governa agora ou nos governou antes... MAS É MUITO IMPORTANTE para que vier a governar-nos a seguir.
A não ser que seja o Senhor Alexandre Soares dos Santos.
E não é que a mim nem sequer me incomoda? Deve MANDAR QUEM PODE... e ele já deixou uma pistazinha. Pelo menos reduziu todos os outros quadrandes, da política à economia, àquilo que hoje valem: NADA!
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1 comentário:
Não tenho opinião sobre este caso. A 1 de Maio estava a trabalhar, sei lá se foi feriado. Por isso não vou comentar a questão directamente. Só quero comentar algo lateral nesta história: o tal senhor que mudou a tal holding para outro país limitou-se a seguir o conselho do paçus coalho (é assim que se escreve de acordo com o novo acordo): emigrou. Neste caso, emigrou a empresa...
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