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Não passaram ainda cinco minutos desde que, consultando a minha caixa de correio deparei com algo que, do fundo do meu ser, jamais teria admitido poder encontrar. Fiquei siderado e ainda me custa a acreditar. Juro-vos. A todos, incluindo aos Companheiros que já decidiram em relação a amanhã. Da Greve Geral!
Curiosamente, num outro espaço, nos dois últimos dias tenho vindo a discutir com um Amigo a importância dos sindicatos. Estamos, com a maior das urbanidades, saliente-se, em desacordo.
Mas o que não posso aceitar é esta mensagem que acabo de ler. Sou associado, vai para duas décadas, do Sindicato dos Jornalistas mas NÃO ACEITO 'recadinhos' dados atrás da orelha! E acho que foi um tremendo (e desnecessário) tiro no pé!
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Os tempos mudaram e, hoje em dia e apesar de, uma vez por outra acontecerem greves com número de adesões a não desprezar, também temos que admitir que há muito menos gente sindicalizada - o que significa menor 'poder' dos sindicatos - do que quando eu comecei a trabalhar, em 1977 (é verdade, já lá vão 33 anos!).
Comecei por baixo, digo-o com orgulho mas não com soberba. Não quero melindrar ninguém que, com melhores capacidades financeiras dos pais pode, em 1977, repito, prosseguir os seus estudos o que, na altura era entrar directamente na Universidade. Eu tinha notas para isso, mas notas escolares. Os meus pais não tinham as outras, que lhes permitissem abdicar de mais um par de braços a trabalhar para a família, até porque, sendo o mais velho, não sou filho único.
Comecei a trabalhar com 17 anos e o antigo 7.º ano dos Liceus completo e com notas que me permitiriam seguir, de imediato, em frente. Não foi possível e, aos 17 anos também não conseguia mais do que empregos temporários. Não era legal. Mas os 18 estavam à porta e, no mesmo ano de 1977 entrei, directamente como efectivo - velhos tempos! - para uma das então muitas, mesmo muitas empresas aqui da zona onde moro e logo me fiz sócio do sindicato. O mais forte, à altura. Qual TAP, qual maquinistas da CP? Naquela altura, com empresas como a Mague, a Lisnave, a Setnave, a Feiteira, a Tramagal... os Metalúrgicos ditavam a 'ordem'.
Aderi voluntariamente, mesmo que admita que todos eram 'convidados' a aderir e 'não' era resposta errada. Mas também não eram despedidos por isso. Vivi a cisão, com o aparecimento da UGT pró-socialista e de uma outra central que se diluiu e que era afecta ao PPD.
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Dez anos mais tarde, e depois de já ter que cumprir os novos 'obstáculos' criados para que se chegasse à Universidade, cheguei ao Jornalismo. Não havia ainda cursos de Comunicação Social e as redacções eram alimentadas por quem vinha de Direito e, sobretudo, de Letras. O meu caso. Já não era um puto, tinha 26, quase 27 anos, mas consegui integrar a redacção de um semanário que há muito se extinguiu. Conseguida a Carteira Profissional - tenho uma outra, numa especialidade da metalúrgia, e no seu nível mais alto - logo tratei de me inscrever no Sindicato, na Casa da Imprensa, no CNID...
Tinha conseguido cumprir o meu sonho, ser Jornalista. Foi quase como que a 'agradecer' a toda a gente. E, uma vez mais, ninguém me obrigou a sindicalizar-me, até porque o jornal onde comecei a dar os primeiros passos era claramente de direita, dirigido por Nuno Rocha, que se destacou por defender a anexação de Timor pela Indonésia.
Isso não me preocupou, muito menos me amedrontou. Aderi ao Sindicato dos Jornalistas e não me passa pela cabeça deixar dele ser associado.
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O que é que me ofendeu, afinal de contas?
O SJ, por iniciativa - sublinho, infeliz - não sei de quem, resolveu enviar aos seus associados uma pequena 'cartilha' do que fazer amanhã.
Sem pretender diminuir - muito longe disso, e peço a todos que me entendam - ninguém, o SJ parece que se esqueceu que está a lidar com... Jornalistas! Ok. Cada vez - é a minha opinião, e como em tantas outras dela não abdico - ser 'jornalista' está mais fácil do que ser cortador de carnes em qualquer talho. Porque é preciso saber usar as ferramentas correctas.
Ok, cada vez está mais difícil ser jornalista porque as empresas de CS aceitam tudo o que - de borla - as faculdades lhes disponibilizam, e abusam criminosamente disso para 'queimar' jovens que não têm culpa de não serem jornalistas, apesar do diploma universitário, mas que trabalhando três meses de borla dá para 'encostar' os verdadeiros jornalistas que caíram em desgraça. E ao fim desses três meses, mesmo que algum jovem se destaque - e há alguns que o fazem - vai tudo prá 'lixeira' e vêm mais cinco ou seis que nada sabem. E os ciclos sucedem-se. E o nosso Jornalismo é, hoje em dia, disso reflexo.
Mas estes jovens não têm culpa nenhuma e nem sequer chegam a ter tempo a sindicalizar-se. E o Sindicato, manda a verdade que se diga, aparece numa situação de quem assobia para o lado...
Então o 'recado' que o SJ me enviou para a minha caixa de correio... era mesmo para mim?
Erro crasso!
Não sou de receber 'recadinhos' e, tendo em conta a precabilidade dos Colegas mais jovens, afinal este 'recado' só pode ser para os mais velhos, para os veteranos, onde me incluio. Aí renego qualquer possibilidade de ser influenciado.
Não aceito receber 'ordens' - mesmo travestidas de 'recomendações' - seja de quem for.
Eu faria greve. Em consciência.
Mas que cabecinha (que não está boa) 'pariu' aquilo de ir em transporte próprio - para evitar o uso dos transportes públicos (eu não tenho transporte próprio)?...
... de levar comida de casa - para não ir comer uma sandes ao café da esquina?...
... para atestar o depósito ainda hoje - para não haver funcionários das estações de serviço com trabalho amanhã? Que terá o SJ a ver com isso?
Repito, EU faria greve amanhã. Mas avisaria, sim, os meus superiores que iria fazer greve. Por uma questão de funcionalidade do serviço. Não os ia deixar a pensar que eu poderia aparecer para trabalhar e depois, não comparecendo, sobrecarregar um Companheiro que, também ele em consciência, tivesse decidido não fazer greve, ter de, sem contar com isso, trabalhar a dobrar.
A Greve é um Direito que me assiste.
Por enquanto é possível fazer greve e são os sindicatos que a podem decretar.
Mas que não vão além disso...
NÃO ME DIGAM O QUE TENHO QUE FAZER!
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