quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Último Grito, ou o Primeiro Estertor... Que Indicía o Princípio do Fim Próximo?

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Tenho a certeza de que não estou sozinho. Alguns da minha geração, mesmo que poucos, sentirão o mesmo. Provavelmente já o exprimiram também.

Vim do nada, lá bem do fundo e muito cedo tive de abdicar da minha juventude, isto no sentido de a poder ter vivido, não como ela hoje é vivida, que os tempos são outros mas, pelo menos, como muitos da minha idade o puderam fazer.

Terminei o Secundário três meses antes de completar os 17 anos, com essa idade poderia ter entrado na Universidade porque ainda não tinham 'inventado' o Propedéutico (palavrão que aos que têm menos de 50 anos não diz absolutamente nada) e depois o 12.º ano, para a ela ter acesso.

Mentindo na minha idade - acrescentando-lhe logo os tais três meses - no dia 10 de Agosto de 1977, estamos a dois meses de se completarem 34 anos, entrei no mundo do trabalho para poder ajudar a família. Escondi de todos a minha tristeza e desolação e aceitei sem sequer, pelo menos à frente dele, pestanejar perante a decisão - sem direito a contestação - do meu pai.

Tenho duas irmãs e, pelo menos, e nisso ele mostrou-se irredutivel, elas teriam de atingir o ponto que eu alcançara. Para que isso pudesse ser possível o orçamento familiar precisava ser reforçado. E só comigo a trabalhar isso aconteceria.

Ainda não tinham sido inventados - foda-se, sou mesmo velho! - os recibos verdes, mas através de um amigo que tinha um amigo que, por sua vez, conhecia alguém que tinha uma empresa pirata que arranjava obras por sub-empreitadas.

Foi assim que comecei, como 'trabalhador não diferenciado' - o que em português significa 'pau para toda a obra' - a trabalhar no inesquecível dia 10 de Agosto de 1977.

Sempre tive 'queda' para as letras, influência da minha mãe que inscreveu como sócio de uma Biblioteca Pública ainda eu não tinha 10 anos. Não fiquei muito tempo pelos livros infantis... aos 12 anos já tinha lido alguns Clássicos da Literatura Portuguesa e, não sei porquê, desde muito cedo me interessei pelo que tinha sido o Mundo, até ali. Na altura, falo de quando tinha 13, 14 anos, o que acontecera/acontecia no Mundo éra-nos negado.

Assim, li o que pude sobre as grandes civilizações clássicas e, daí até me fixar em tudo o que me era proporcionado sobre as duas Grandes Guerras do Século XX foi um passo.

Isto tudo para vos explicar como é que, autodidacta, chegado a 1974 já sabia o que queria, ou não, ler. Não foi difícil cimentar uma opinião, alicerçar convicções.
Mas nesta altura ainda estava na escola.

Depois, o tal desvio imposto. Seis anos a trabalhar numa empresa metalomecânica pesada (um estaleiro naval) - nessa altura, o concelho de Vila Franca de Xira, para onde tinha vindo com dez ano, lá, do Alentejo profundo - havia dezenas de grandes empresas, sobretudo nesta área - e o número de empregos ultrapassava largamente o número de habitantes com idade para trabalhar.

Conheci gente de outras regiões da Grande Lisboa. Fiz parte de Comissões de Trabalhadores mas nunca me envolvi na vida sindical.

Aos 23 anos voltei a estudar. Já tinha que fazer o 12.º ano mas, antes, tinha-me inscrito numa escola de línguas... o tempo mão era muito, chumbei. Uma, duas, não sei quantas vezes, por faltas porque não podia estar em dois lados ao mesmo tempo e o 12.º ano, feito ali em Chelas, numa escola que não sei se ainda existe, frente ao ISEL, tinha aulas até às 23 horas... mais hora e meia - nessa altura não havia tantos comboios como há agora - e chegava a casa quase à uma da manhã para me levantar às seis para ir trabalhar...

Aos 26, 12.º ano feito, fui para Letras, na Universidade Clássica de Lisboa. Cedo percebi que a saída do curso me levaria inevitavelmente ao ensino, coisa que logo pus de parte. Mas a má sina abre janelas de vez em quando. Quando havia já alguns meses que me havia 'atirado de cabeça', deixando tudo para trás, em mais um caso de aventura numa 'rádio pirata', através de uma amiga cheguei aos jornais.

Ao velho semanário Tempo, ali à Rua Rubén A. Leitão, então paredes-meias com o Correio da Manhã. Corria o ano de 1988.

Impossível de esquecer. O Chiado derreteu-se em chamas no dia 25, uma 5.ª feira e ainda fiz reportagem para a rádio a partir de uma cabine telefónica!
Na segunda-feira, dia 29, apresentei-me n'O Tempo cujo director era, e foi-o até ao final Nuno Rocha, um f.d.p. amigo dos indonésios contra a independência de Timor.
Apanhei de tudo!
Já lá vão quase 23 anos.

Não havia cursos superiores de Jornalismo. Eu não tinha 'padrinhos' mas passei a fase de 'estágio'. Nem era disso que se tratava.

O Jornalismo de hoje é asséptico... falar de Paixão, acredito, será motivo de chacota, mas estou-me a lixar!

Todo este longo preâmbulo para tentar que percebam que não sou jornalista por ter conseguido um 'canudo' - na maioria das vezes, na segunda ou terceira escolha do curso que, realmente queriam tirar - mas porque demonstrei jeito suficiente para, num jornal rigoroso, ultrapassar as dificuldades que não deixaram de me criar.
Era assim... Os caloiros eram bem 'esprimidos'.

Sou Jornalista por Paixão e Convicção (algum jeitinho também, para não parecer demasiado modesto). Não porque saí de uma qualquer faculdade...

Mas vamos ao que verdadeiramente quero dizer com esta entrada.

Abertura do Telejornal na RTP, Canal Público...
Cito de memória...

«Francisco Assis assume corrida à liderança do PS (seguiram-se imagens do próprio a dizer que sim).../... mas António José Seguro deixou hoje na sua página do Facebook que também será candidato...»

Curiosamente, hoje o Correio da Manhã deu-nos conta que, em França, o Conselho Superior de Audiovisual PROÍBIU que as rádios e televisões do país se refiram, quer ao Facebook, quer ao Twitter (a não ser que sejam eles os motivos da notícia), enquadrando-os na figura de PUBLICIDADE mascarada. E chama a atenção para o facto de que há outros serviços disponíveis na rede que podem exigir não ser excluídos desta publicidade graciosa e, assim, poder vir a enfrentar-se com uma situação insustentável.

CONCORDO!

Os tempos mudaram e eu não fiquei petrificado na realidade experimentada nos anos 80 do século passado quando ainda não havia telemóveis e muito menos internet e muito menos ainda tudo o que esta todos os dias nos oferece de novo.

Nessa altura, para fazer uma entrevista procurava-se o número de telefone fixo de quem queríamos entrevistar (melhor... da empresa), ligávamos, atendia a secretária, pedia para deixar o nosso contacto - depois de se inteirar do que queríamos falar - e prometia uma respostas o mais breve possível.

E a entrevista jamais era feita por telefone. Eu, nós todos, tínhamos que ir ter com o entrevistado ao local que ele marcasse, porque lhe dava mais jeito.

Hoje, escreve-se um artigo de página inteira com troca de sms... 'piratam-se' fotos da internet, fazem-e manchetes com as duas linhas que se leram no sítio de um jornal espanhol ou sul-americano... a partir do Twitter da namorada de um jogador abrem-se duas páginas com uma notícia sobre outro jogador sem que se tenha a sensatez de confirmá-lo.

Como escrevia o Sport, destacável do Correio da Manhã aos sábados, na sua última edição, há quem publique, quatro ou cinco dias depois, uma notícia como se fosse sua, fazendo fé que ninguém que os está a ler já leu antes noutro local.

Achei piada à definição da 'fonte': o quisque da esquina!
O drama é que é verdade!
E nenhum jornal escapa a esta tentação!

O meu passatempo, neste momento, é descobrir o que é que A Bola, O Jogo e o 'generalista especializado em desporto' deixaram escapar em relação a cada um dos outros porque o que leio é exactamente igual nos três.

Também não admira, nas mini-reportagens que vejo na TV chego a ver os respectivos jornalistas ombro a ombro de braço esticado com o gravador estendido...

Este não é o Jornalismo que me apaixonou e, com uma mágoa imensa concluo que, se eles são jornalistas, então... eu não o consigo ser.
Escorre de mim a desilusão.
Choro, sem lágrimas, o que me aperta ainda mais o peito, a paixão que sinto volatizar-se, deixando-me vazio e triste.

Esgotou-se o meu prazo de validade!...

4 comentários:

carneiro disse...

Não esgotou nada!

mzmadeira disse...

Meu caro doutor... esgotou sim.
Não tenho Facebook, não sei mexer no Twiter... mal comparado... é quase como se não soubesse usar o computador...

Sempre mantive uma relação de grande proximidade com as minhas fontes... agora não sei como recuperá-las (faltou dizer que estou, outra vez, de baixa prolongada e acuso isso mais do que fisicamente, em termos emocionais e psiquicos...)

Como ninguém lê isto, posso desabafar... se recuperar, onde é que irei parar? Já fui 'desterrado' para a Edição da Madeira - que deixou de existir - o meu nome não apareceu mais do que uma dúzia de vezes a abrir uma notícia nos últinos seis anos... Já ninguém se lembra de mim!...

carneiro disse...

tambem não tenho facebook nem mexo no twiter.
E muita gente se lembra de si. Ainda há 3 semanas em Matacães, num almoço, estive, além doutros, com o Joaquim Gomes e toda a gente sabia quem o amigo é.


Abraço e coragem !

Martins Morim disse...

Caro Manel!
Espero que ao menos por esta via te chegue o abraço solidário que fica apenas gravado no telemóvel.

Não estás só no desencanto, mas não deves desanimar nem desistir. Como sabes, a história repete-se e os 'vencedores' de hoje não o serão eternamente.

A visibilidade, razão primeira de muitos assuntos considerados 'giros', 'incontornáveis' e 'mediáticos' não se sobreporá eternamente à qualidade.

Acima de tudo, importa cultivar a seriedade ou pelo menos o esforço de o ser. E eu sei que o és.

Todo o tempo é composto de mudança... já escrevera Camões. E os tempos vão mudar novamente. Se nós quisermos, claro está. E eu creio que tu também queres.

Mas vai ser preciso tempo e, mais que isso, vontade de mudar.

Forte abraço, amigo

Martins Morim