sexta-feira, 30 de maio de 2008

Arrepiantes Coincidências ou, o que é que "crescemos" em 24 anos?

A notícia trá-la o Correio da Manhã na sua edição de terça-dfeira (na página 15).

Algarve, evacuação aérea o título da peça – assinada pelos companheiros Rui Pando Gomes, mais A. M. S. e J. M. G. “TRANSPORTE FATAL”, obrigaram-me a lê-la.
Devo confessar, sem falsos pretensiosíssimos, que “adivinhando” o que me fez arrepiar.

Curiosamente, dos 14 comentários postados na edição on-line do jornal, nem um fez a ligação. Será tudo gente relativamente jovem.
Deduzo.

Mas, repito, as coincidências são arrepiantes.

E o pior é que estou a falar de duas situações que aconteceram com um intervalo de… 24 anos! Já perceberam que a comparação é com o acidente – e o que depois aconteceu – do qual haveria de morrer o nosso grande Joaquim Agostinho.

Uma senhora sofreu um traumatismo craniano, no passado domingo, dia 25 de Maio de 2008, depois de uma queda em casa de familiares na… QUARTEIRA.

Joaquim Agostinho caiu, durante a Volta ao Algarve de 1984, perto da meta instalada… na QUARTEIRA.

A senhora foi transportada para o Centro de Saúde de Loulé;
tal qual aconteceu com Agostinho;

Daí, foi transferida para o Hospital de Faro…
como o Agostinho;

Perante a gravidade do caso, o INEM desaconselhou o transporte por helicóptero...

Em 1984 nem havia helicópteros, ou a solução nem foi equacionada;

Foi transportada por estrada – aqui a diferença entre as estradas que temos hoje a ligar Faro à capital é abissal, em relação às que havia há 24 anos – mas houve um hiato de tempo, demasiado longo porque, se havia ambulâncias, não havia ventiladores.

O Hospital Central de Faro não tem (!) ventiladores, ou estão avariados.

A senhora chegou a Lisboa 10 horas – DEZ HORAS – e dez minutos depois de ter sido accionado o primeiro alerta, para o CODU local, ainda foi operada, mas não resistiu.
O óbito foi declarado às zero horas de terça-feira.

São ou não assustadoras as coincidências com o caso do Joaquim Agostinho?
Aconteceu 24 anos depois.

Clicando na foto podem vê-la maior e, à direita, em gráfico, está a cronologia dos acontecimentos.

Para quem não leu, e já não tem hipóteses de ler – não sei se a versão on-line se mantém visitável – transcrevo a seguir a notícia do Correio da Manhã.

28 Maio 2008 - 10h00

Algarve: INEM recusou evacuação aérea devido a situação clínica
Transporte fatal

Seis horas de espera fatal. Foi este o tempo que uma vítima de traumatismo craniano grave demorou até ser transferida do Hospital Central de Faro (HCF) para o Hospital de São José, em Lisboa, por não haver ambulâncias com ventilador disponíveis e o INEM ter desaconselhado a evacuação de helicóptero, devido à situação clínica da paciente.
O caso aconteceu no passado domingo.

Maria Ramalho, de 69 anos e professora de Estremoz, acabou por não resistir às complicações neurológicas que a espera lhe causou e morreu ontem, no São José. A família está revoltada e vai avançar judicialmente contra o HCF, garantiu ao CM um familiar próximo, que trabalha numa outra unidade hospitalar.

Ao que o CM apurou, a última opção foi activar uma ambulância da Cruz Vermelha de Castro Marim (a 100 km de distância) sem ventilador, disponibilizando o HCF o equipamento para o transporte. Mas, quando os enfermeiros preparavam a transferência, repararam que 'os três ventiladores portáteis do Hospital estavam avariados', revelou fonte hospitalar.

A solução passou por pedir emprestado um ventilador da ambulância da Cruz Vermelha, estacionada no Aeroporto de Faro.

A unidade de saúde garante que 'a transferência foi feita mediante o cumprimento de todos os protocolos clínicos adequados'.

AVARIAS DOS VENTILADORES SEM EXPLICAÇÃO
O Hospital de Faro não esclareceu a razão de não ter ventiladores portáteis em funcionamento para transferências de emergência entre hospitais. Apenas explicou ao CM que 'inicialmente foi considerada a hipótese de evacuação aérea e contactado o Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM. Contudo, a situação clínica da utente desaconselhou a utilização deste transporte'.

Para o transporte por via terrestre, a unidade de saúde algarvia esclareceu que só 'a 4ª entidade contactada informou dispor de viatura para o efeito'.

O pedido de transporte foi feito segundo o que 'está protocolado com as entidades da região que efectuam transporte de doentes'.

Rui Pando Gomes / A.M.S./J.M.G.

De toda esta (triste) história, sobressai uma realidade: no Algarve ainda há corporação de bombeiros – e a culpa não será destes – sem ventiladores portáteis;
e o Hospital Central de Faro tê-los-á, mas estarão avariados.

Quanto custará um ventilador portátil?
Quanto custará salvar uma vida?

Façamos umas contas… esquisitas.

700 € x 23 jogadores = 16.100 €
mais 1.700 € do senhor Scolari = 17.800 €
Simplificando a coisa, se o mister ganha mais mil euros que os jogadores, os seus adjuntos – Murtosa, Schneider e Brassard – não devem receber menos de 1.000 €…

17.800 € + 3.000 € = 20.800 €

E ainda falta saber quanto recebem roupeiros, técnicos de… calçado, cozinheiro e adjuntos… o representante permanente da FPF, mais um possível RP, mais um possível RPI…
Façamos as contas por baixo…

Por dia, o Grupo de Trabalho da Selecção de Portugal receberá, mais euro, menos cêntimo, digamos… 23.000 euros.
QUATRO MIL E SEISCENTOS CONTOS, na moeda antiga.
POR DIA!

Quantos ventiladores se comprarão com 4.500 contos?
Nem que seja apenas UM!!!!

PS: Não cobro nada pela ideia, mas podem imprimir também este artigo e, sei lá, enviá-lo por fax para Viseu. Pode ser que os artistas da bola até consigam ser solidários. Afinal é só o valor de UM dia dos muitos que vão receber.
Se quiserem, eu assino.

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