domingo, 14 de outubro de 2007

E nós, Sociedade Civil… Que Fazemos?

Li, entre o último fim-de-semana e este, a entrevista que Catalina Pestana deu à revista Tabu, do semanário Sol. Não levei oito dias para ler a entrevista, esta é que foi dividida em duas partes, publicadas nos dois últimos números.

Se fiquei chocado? Não…
O pouco que sei sobre o “caso” Casa Pia e a opinião que já tinha formada, não foram em nada abalados. Antes pelo contrário…

… fiquei foi, inesperadamente abalado!
Então… a ex-provedora da Casa Pia – a que teve de segurar o barco quando este parecia ir ao fundo – vem confirmar denúncias que já antes fizera, insiste em nomes (diz que sabe de muitos mais mas, porque os crimes terão prescritos, recusa-se a atirá-los no ar só por atirar), confirma, para quem quiser ler, que um ex-governante (socialista) que chegou a ser preso mas depois foi posto à solta, é mesmo culpado – e anda por aí… – e não há um Juiz a quem a consciência mande fazer justiça.

Fixei uma frase de Catalina Pestana – que, evidentemente, foi alvo de várias queixas de… “puros inocentes” que produziram outros tantos processos – diz que não tem medo de ir a julgamento. Mas adianta, cito: “Prefiro mil vezes um juíz severo a um juíz medroso. Não há coisa pior para a Justiça do que um juíz medroso”.

As declarações de Catalina Pestana parecem-me credíveis. Algo naquela figura de avó me inspira confiança, e ela estica a corda e aponta o dedo a forças (muito) poderosas, como a Maçonaria. “… não é uma associação de malfeitores, mas tem um defeito tenebroso: os seus elementos protegem-se uns aos outros.”

Vem-me à cabeça um nome. O do juíz espanhol Baltazar Garzón.

Que assumiu, numa luta quase pessoal, a “guerra” ao terrorismo em Espanha.
Traz-me de volta uma velha série de TV, o Polvo, na qual, é também um juíz, praticamente sozinho, quem faz frente à máfia…

Há, nesta longa entrevista, dados que, ao longo dos últimos meses (anos) nos foram sonegados. Alguns, mais do que um, dos rapazes que testemunharam e que, já foram eliminados. Sem eufemismos, mortos.
Overdoses, acidentes… incidentes que, desligados do “caso” Casa Pia são apenas números, estatísticas.
Mas onde ela encontra ligações.

Admirei a coragem da senhora. E adivinho que ela sabe que corre riscos.
Sabe o nome de muita gente implicada. Não de “gente”, mas de gente importante.

Revela que os nomes estão compilados e foram entregues a quem lhe sobreviva de forma a que, daqui a 25 anos – quando o caso já não existir em concreto porque há prazos (que eu diria quase criminosos, em si mesmo) – se publiquem, se revelem então TODOS os nomes.

E sublinha-se a vergonhosa “emenda” acrescentada ao Código Penal, aprovada na Assembleia da República com os votos favoráveis do… Partido Socialista e do PSD! Crimes com igual enquadramento – descodificando, o mesmo crime perpetrado em continuado sobre a mesma pessoas – contam apenas como… UM crime.

Como não se pode matar “várias vezes” a mesma pessoa… sobra o quê?

Assaltos continuados ao mesmo banco?
Ou violação continuada sobre menores? Sendo que esta hipóteses é a mais macabra…
Não parece que é uma Lei feita à medida! É uma Lei feita à medida.

Catalina Pestana está agora envolvida num movimento de Cidadãos que, àparte dos sistemas judicial ou governamental, que não deixe morrer o “caso” Casa Pia.

Mas volto quase ao princípio.
O que é que está a emperrar a Justiça?
E só o facto de admitirmos que a Justiça está a ser… emperrada, é terrivelmente penalizador do nosso sistema judicial.

E porque é que a CS ignora isto?
Porquê? Porquê?

Mas há mais, Catalina Pestana garante que continuam a acontecer os mesmos casos na mesma instituição.
Quem, que coisa, que monstro está por trás de tudo isto que se acha tão inatingível que se ria da Justiça?

E onde é que está a resposta da Justiça?
Que Justiça?
Que País somos nós?
Em que país é que eu vivo?

As crianças que vão para a Casa Pia já são desprotegidos pelo destino.
Será sina delas continuarem desprotegidas para toda a vida?
E qual é o nosso – dos Cidadãos – papel?
Ficar a ver de longe?
Ignorar porque um dia optámos por um partido político e – aparentemente – é dentro desse mesmo que há mais desvios… ao aceite como normal?

Catalina Pestana fala, com amargura, do caso do tal dirigente socialista que chegou a estar preso, mas acabou por ser solto… e fala de tal forma que ninguém ficará com mais um pingo de dúvida. Aquele homem está envolvido.
E está aí… à solta, com uma vida… “normal”…

Que raio de país é este? E não estou a falar da não aceitação da candidatura de uma estação de rádio local. Estou a falar de seres humanos.

E se o prof. Marcelo ignora esta entrevista… já não sei quem poderá, abertamente, forçar a reabertura da discussão pública sobre o caso.

Daqui a 25 anos também eu já cá não estarei.
Quem seriam os velhinhos… devidamente acompanhados pelos seus delfins, que iam à Casa Pia escolher, como se de animais se tratassem, os miúdos que usariam, ou de quem se deixariam utilizar, para perversas práticas que me arrastam ao vómito.

Será que vamos mesmo ter que esperar… 25 anos?

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