domingo, 23 de setembro de 2007

As velhas Noites da Rádio...

SAUDOSISTA? SIM… ASSUMO-O SEM COMPLEXOS

A notícia li-a, pequenina, na Actual, do Expresso. Acabou o programa “As Horas…”, do António Sérgio, na Rádio Comercial.
A Rádio dos anos 80 e 90 ofereceu-nos grandes, extraordinários, programas “de Autor”. Os nomes, embora tenham ficado na memória, pouco queriam dizer… foram os seus autores/apresentadores que cativaram milhões de ouvintes. Fiéis. Mesmo muito antes de serem inventadas – em claro conluio com as grandes editoras/distribuidores – as famigeradas playlists. Quando nem se sonhava que entregando a gestão de um programa de rádio a um computador, este geraria centenas de programas diferentes… sempre com a mesma dúzia e meia de músicas.

Sempre gostei dos “Programas de Autor”!
Na minha – reconhecida e, sem complexos, assumida – pequenez, cheguei a defendê-los na minha passagem, saudosa (para mim, claro, que não sou assim tão pretensioso) passagem pelas ondas da Rádio.

O fim de “As Horas…” do António Sérgio eram o último programa de Autor que ainda podíamos ouvir.

Não… o “Oceano Pacífico”, que muitos, incluindo eu, ainda ouvem… todos o sabemos que não é mais do que mais uma versão de um “enlatado” onde até a voz do João Chaves é adicionada. Ainda o oiço, claro que sim… mas assim que uma música entre em fade… eu já sei qual é a que vem a seguir, muito antes dos primeiros acordes.

Li a notícia esta tarde. E, assim que a li, espremi a memória para ver se me lembrava do maior número possível de programas com “marca de” e não com A MARCA de…

“Morrison Hotel”, do Rui Morrison e, mais ao menos pela mesma altura, um que jamais esquecerei… “Pretérito Quase Perfeito!”. Não consigo lembrar-me quem era o autor? Era do Morrison também?... Não…

O pior é que depois as memórias embaralham-se e não sei se vou conseguir por o “filho” nas vozes dos “pais” legítimos… mas deixem-me tentar.

Começo, naturalmente, pelo próprio António Sérgio, com o “A Hora do Lobo” ou o “Som da Frente”!
“Voo de Pássaro” do Júlio Montenegro. Era dele o “Pretérito…” ?
Maldita dúvida.
Ou era do Paulo Coelho que me prendia à telefonia ao fim da tarde para ouvir o “Circulo em FM”?
E o “Intima Fracção”, do Francisco Amaral? – que recuperei na Net…

Tchiii... quem é que, com mais de 40 anos não se lembra d’”As Noites Longas do FM Estério”, do António Santos?

E o “Passageiro da Noite”, do Cândido Mota… ok, já num estilo diferente… tal como o “Circulo em FM”…

Não havia televisão por cabo, logo não havia MTV, VH1 nem nenhum outro…
Não havia Internet… e as milhentas possibilidades de procurar, achar e… piratear.

“Roubei” muitos dos programas de que atrás falei. Gravando-o nas velhas cassettes, num velho rádio-gravador. Talvez o meu primeiro grande sonho conquistado com os primeiros ordenados que ganhei, quando comecei a trabalhar aos 17 anos a ganhar… 35,00 € por mês.

A Rádio que, ainda pior do que a televisão, luta para sair de um charco de areias movediças chapinhando exactamente no mesmo charco que as outras – irão todas ao fundo – lentamente vêm a abdicar dos Programas de Autor.


É verdade que, há 25, 30 anos… não só esses autores já dispunham de uma colecção privada de discos aos quais nós já não tínhamos acesso, como tinham hipóteses de chegar a outros antes de eles serem editados em Portugal.
ERA TUDO NOVIDADE.

E a televisão fechava à meia-noite e não havia Internet.
Saudosista? Eu? Neste campo... definitivamente! E assumo-o por completo.

Hoje, oiço a RFM. Apanho aparte final do “Oceano Pacífico” quando me deito… começo a ouvir o João Porto. Mas acontece sempre o mesmo… mal um tema entra em fade away eu começo a trautear o que vem a seguir.
Malditas playlists.

Reencontrei a “Intima Fracção” na net. Pode ser que o António Sérgio assuma o mesmo caminho… então reganharei o prazer de ouvir a sua selecção muito pessoal.

Que sempre admirei. Que admiro.
Que gostava de poder continuar a ouvir.

Em sua substituição lá virá mais uma playlist. Talvez com critérios mais apurados, mas será sempre a diferença entre uma TelePizza e uma PizzaHut.
Nenhuma!

2 comentários:

Unknown disse...

Partilho completamente estas saudades e procuro por todo o lado onde ainda seja possível ouvir programas de rádio de autor. Não só de temática musical, mas onde as músicas, as palavras e as vozes criem uma relação única, envolvente, estimulante, cúmplice e em permanente dinâmica com o ouvinte. É esta relação que permite que não sejamos apenas consumidores passivos do que "está a dar" mas sim ouvintes que façam parte daquilo que está a ser criado por alguém, respondendo-lhe (mesmo que muitas vezes silenciosamente) e partilhando idéias, sons, climas emocionais.
Há algumas coisas a valer a pena na Antena 3, na Antena 2, na Radar, nalgumas rádios universitárias, mas não chega para ultrapassar as saudades dos nomes e momentos que citou e de tantos outros (mesmo os que depois tiveram percursos pessoais inesperados e desapontadores): José Manuel Nunes, João David Nunes, José Duarte, Jaime Fernandes, Aníbal Cabrita, Humberto Boto, Fernando Alves, Ricardo Saló e mais e mais, Dois Pontos, a Linha do Horizonte, à Luz de Edison (e à sombra), Tabú Príncipe dos Cágados, a RUT, Em Órbita, A Menina Dança, tanta coisa desde os anos setenta, tanta coisa que foi acabando e nós a olhar para o lado...

carlos

Edward Soja disse...

Olá. Sou novo, e talvez possa soar a fulminante a minha sugestão, mas há programas de autor muito bons (sim, o António Sérgio faz falta e ninguém o substitui, apesar de eu não o ouvir, uma vez que só ouço rádio pela net quando estou ao ordenador e da minha casa não apanhava a rádio onde ele fazia o programa...)

Bem, basta ouvir a RUC, onde não faltam programas de autor. E na RUM, cá de Braga, há um muito bom, já com uns anitos (21 para ser preciso) chamado O Domínio dos Deuses, com o Pedro Portela. Passa só música alternativa.

Que seria de mim sem a RUC? Tantos programas fixes que lá há...
De gótico (num programa que passa às 23 dos domingos, chamado "1978") a krautrock, música portuguesa, folk, rockabilly... tanta coisa fixe. Ai se eu tivesse tempo para ouvir tudo...