quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Será... genético?!!! Não culpem o Scolari

Depois e nos termos “habituado” às fases finais, fosse dos Europeus, fosse dos Mndiais – estou a falar de futebol – olhando para a Selecção de Portugal faz-me lembrar aqueles velhos jogos populares de aldeia (que, entretanto, também se perderam). Erguia-se um poste na praça central da terra, um poste devidamente encebado e o desafio era… subir até ao cimo do poste.
Valia tudo (ou quase, dentro do “não-há-regras-escritas”) por isso, os mais espertos passavam as mãos na terra de forma a que esta contrariasse a escorregadela ao primeiro contacto.
Mas a terra ia ficando a cada palmo de poste conquistado e, não raro, já muito perto do topo o candidato lá escorregava por ali abaixo.

Foi um tempo bom, esse dos jogos de aldeia. Não havia pão, para além daquele que se fazia no forno próprio, não havia trabalho, para além daquele que a pequena jeira de família dava. O mínimo para enganar a fome. Umas couves, umas batatas…
Não vou dizer que fossem felizes esses tempos, mas a felicidade, como tanta coisa na vida, mede-se por comparação. E não havendo padrão melhor… sim, era-se feliz.
Pobre, muito pobre, vergonhosamente pobre num País propositadamente adiado, mas lá vinham, de tempos em tempos, as festas da aldeia e tudo se esquecia. Desempoeirava-se o fato que durava uma vida, que só se usava nos casamentos de família e em alguns baptizados e, por dois ou três dias esqueciam-se as agruras dos outros trezentos e tal, de cada ano.

A verdade é que foi isso mesmo que sempre aconteceu com o futebol nacional. Vestia-se o fato domingueiro, antecipava-se a festa – como se antecipava a glória raramente conseguida de se conseguir chegar ao topo do pau encebado – e depois, corrido o pano sobre o acontecimento, restavam os lamentos e as desculpas.

No futebol estamos exactamente no mesmo estado.

Faz-se a festa de véspera e depois sai-se a chorar o facto de não termos alcançado o topo do pau.

Sendo um desporto colectivo, o futebol, principalmente na última década, faz-se de figuras. Rara é a grande equipa que o é pelo colectivo. Não!
O Benfica tinha o Simão, o Sporting as suas jovens estrelas, o FC Porto o Quaresma, o Lucho, o Anderson…

No entanto, a subida ao estrelato – na maioria das vezes, para não dizer sempre – envergando a camisola da Selecção proporcionou a 180% dos bons jogadores nacionais contratos milionários em clubes estrangeiros.

Não, não é gralha. Não é possível haver 180 por cento de craques… o que acontece é que hoje, graças àquilo que a Selecção proporcionou, quem é português é craque. Ou então expliquem-me lá como é que uma equipa romena tem DEZ jogadores portugueses que, salvo uma ou duas excepções, ninguém conhece?

É o lado cigano do português. É verdade, temos muito de cigano no sentido em que eu entendo os ciganos. Gente boa, antes de tudo, mas que não consegue… exagerar sempre um pouco as suas capacidades.

Para nos impingir uma “Lacoste” que todos sabemos ser de contrafacção, para os CD que ao fim de cinco leituras deixam de se ouvir, para os DVD que à terceira passagem já não têm som e as imagens são, predominantemente cor-de-rosa.

Pronto… já perceberam que eu comprei.

Mas eu admiro os ciganos. Apátridas há centenas de anos, a sua primeira prioridade é a de tentarem sobreviver onde estiverem. Vendem CDs e DVDs piratas? Mas se nós sabemos que são piratas!...


Não são eles que nos enganam. Somos nós que – lá está, não sendo, no essencial, tão diferentes deles assim – arriscamos. Nos cinco DVDs que compramos pelo preço de um… se um se aguentar seis meses já ganhámos o sábado.

Não, não me esqueci que esta crónica é dedicada ao futebol.
E já vão perceber o porquê dos ciganos…

A Portugal, neste Grupo de qualificação calhou um lote de equipas para rir.

Sempre com o maior dos respeitos pelas convicções de cada um.

Ganhávamos este Grupo com as duas pernas às costas e uma venda nos olhos. Mas o que aconteceria depois? Se ganhássemos os jogos todos, os meninos mimadosmonetariamente mimados – iam pensar que, daqui para a frente, não precisariam mais do que aparecer, vestir a camisola e que a instalação sonora do estádio anunciasse o seu nome.

EU GOSTO DO FELIPE SCOLARI.
É, mais do que um bom treinador, um extraordinário condutor de homens.
E ele viu a coisa exactamente como eu a retratei nas últimas linhas.

Porque é que o Scolari insiste num dado grupo de jogadores em detrimento de outros? Porque, com uma cajadada mata dois coelhos. Eleva o moral aos primeiros e gere, conforme pode, a raiva dos segundos.

O que o Scolari não contou foi com a súbita entronização como “deuses” do futebol de alguns dos seus escolhidos. Nem teve tempo para emendar, depois, a mão. Até porque, como qualquer bom condutor de homens… é teimoso.

E a verdade é que, nos dois jogos em casa em que “deveríamos” ter carimbado o passaporte para a fase final deste Europeu… podemos ter hipotecado tudo.

E a raiva do Scolari, no final, quando até protagonizou uma cena que é de lamentar – mais, de condenar – foi a de ter visto que, ao fim de 180 minutos os “perna de pau” e os claramente fora de forma em que ele apostou, com aquele esperança de que se ultrapassariam… não passaram de medíocres intérpretes de uma táctica que ele há muito tinha engendrado.

Um, porque mudou recentemente de clube e não quer correr riscos que prejudiquem a sua carreira nesse mesmo novo clube; outro porque, castigado no campeonato onde joga, atrocina uma festa de arromba – não foi a festa, que na idade dele esse tipo de festas não fazem rombo o pior foram as consequências mediática… depois mais um ou dois que, com medo de decepcionarem o próprio Scolari – que, aparentemente, é o único que acredita neles – não arriscam tudo o que têm para dar…

Resultado… dois jogos em casa, com adversários que era preciso afastar do caminho… deram em dois empates. Por acaso os adversários directos não fizeram melhor, só que faltam menos jogos.

O culpado não é Scolari. Mas a verdade é que agora já não tem tempo para emendar a mão. E vai ser com estes mesmos… “protegidos” que vai ter que conseguir o apuramento para a fase final do Euro’08.

Agora uma coisa ficou completamente clara… apurados ou não, Scolari não vai ficar.


Encontrou um grupo – com as sabidas e honradas excepções que todos sabem – de pernas-de-pau, construiu uma Selecção mas os seus “perna-de-pau” hoje já jogam no estrangeiro.

Provavelmente nunca sequer lhes passou pela cabeça a influência que o trabalho que tiveram com Scolari teve para conseguirem atingir objectivos que muito poucos deles sonhariam sequer. E Scolari, também ele – o outro (se não houver mais) sou eu – também há-de estar com muitas saudades dos “zés-ninguém” que ele transformou em “estrelinhas” do futebol.

É evidente que já, já a seguir vai partir para outra… daqui a três anos três quartos das estrelas portuguesas que conseguiram contratos milionários à custa da Selecção estarão de volta.

O Benfica, o Sporting e o Porto se calhar já não lhes vão pegar… mas há sempre o Braga, o Belenenses ou o Leiria...

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