Não sei quantos, dos muitos milhares – o número ultrapassará, largamente, o milhão – dos habituais espectadores do Telejornal da RTP1 identificaram ontem a sublime mensagem deixada pelo (creio que ainda) Director de Informação do Canal Público, antes disso – no sentido de mais importante do que isso – um Jornalista respeitável e respeitado, que nas últimas semanas se viu envolvido num caso que, infelizmente, é só mais um dos muitos que nos últimos meses nos foi oferecido por um mui sui generis governo Socialista no qual não se pode dizer que o PM se intitulou, indevidamente, como engenheiro (que não é), onde ciosos subordinados, à boa maneira dos velhos bufos de má memória – que, com o somatório de casos, já nos leva a pensar antes dizer qualquer coisa, se perto está alguém que não conhecemos -, correm a denunciar… uma piada que seja.
Um governo que controla (ou quer controlar) eventuais manifestações sindicais anti-sistema. Um governo que não admite poder interferir, via administração a ele subordinada, de forma a “controlar” o Departamento de Informação do mais poderoso meio de CS do País. A RTP. Mas a verdade, e essa é inegável, é que passando por cima – logo esvaziando-a nas suas competências – da Direcção de Informação, a administração do Canal Público conseguiu colocar num ponto-chave, na rede de correspondentes uma jornalista sexta classificada num concurso interno para o lugar que ia ficar vago em Madrid.
A verdade é que, após uma entrevista do Director de Informação, e no próprio dia em que essa entrevista saiu – entrevista onde se leu que não estava afastada a hipótese de haver influências directas da Teixeira Gomes sobre a administração da empresa, no sentido de “controlar” a Informação, este já não apresentou o Telejornal, o que só voltou a acontecer este fim-de-semana.
Pois!...
Yo no creo en brujas, pelo que las hay, hay…
Mas o que é que eu vi há pouco, e me pergunto quantos mais terão percebido a mensagem?
O Telejornal fechou com a notícia da passagem dos 25 anos sobre a morte de Adriano Correia de Oliveira, talvez o mais puro, o mais “engajado” e interveniente dos chamados Cantores de Intervenção [política].
Umas das vozes mais ouvidas, desde os finais dos anos 60 até 1982, quando morreu, inesperadamente. Com apenas 40 anos.
Com a música em fundo, o Jornalista despediu-se com o habitual “até amanhã” e um – que até nem foi original [fá-lo muitas vezes] – discreto piscar de olho.
A música em fundo… que depois foi “puxada” a primeiro plano, na interpretação original de Adriano Correia de Oliveira antes de passar para a versão numa voz feminina que inclui o disco de homenagem aos 25 anos sobre a morte do saudoso cantautor era, nem mais nem menos, entre tantas que podia ter sido, a “Trova do Tempo que passa”, de Manuel Alegre, que tem quatro dos versos mais emblemáticos da resistência ao regime de antes de 1974: “Mesmo na noite mais triste; em tempo de servidão; há sempre alguém que resiste… há sempre alguém que diz não.”
Já agora, e como homenagem a Adriano Correia de Oliveira, que morreu, subitamente, há 25 anos, com apenas 40 anos de idade, deixo o poema completo de Manuel Alegre, que ele (Adriano) musicou e cantou, transformando-o numa autêntica “bandeira”.
TROVA DO VENTO QUE PASSA
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
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