1.º Acto – Porque o seu alinhamento está marcado para a hora de jantar, e porque cá em casa se cultiva o velho hábito de “enquanto se come não se fala”, assisti aos dois jogos já disputados pela Selecção Nacional de Sub-21, de futebol, no Europeu da categoria, que decorre na Holanda. Não gostei. E gostei ainda menos das “desculpas” apresentadas.
Os belgas têm na equipa 10 jogadores que já actuaram, pelo menos uma vez, na selecção principal do seu país; entrou-se mal no jogo e só na segunda parte se tentou mudar o rumo dos acontecimentos; quanto ao segundo jogo... os holandeses beneficiaram de um penalti duvidoso (como todos vimos na televisão, o derrube do avançado dos Países Baixos foi mais que evidente); que ficou por marcar um penalti contra os mesmos holandeses… as desculpas do costume.
Estamos habituados.
A verdade é que com um empate e uma derrota, as possibilidades de a Selecção Nacional passar aos quartos-de-final é, neste momento, pouco mais do que uma miragem. Até porque os israelitas venderam cara as derrotas com os mesmos adversários que Portugal defrontou.
Contudo, a entourage lusa na Holanda ainda guardava algumas surpresas.
É incrível a facilidade com que arranjamos justificações quando as coisas não correm bem. Assimir que não jogámos para ganhar... isso é que nunca!
Mas esta foi de “peso”. A necessitarem apenas de empatarem, Bélgica e Holanda estarão a fazer “panelinha” para deixar Portugal de fora dos “quartos”. Isto é, ainda antes de voltarem ao relvado e tentarem, pelo menos tentarem, mostrar o que realmente valem, os nossos jovens já vão acautelando o rol das desculpas com o qual nos brindarão mal se concretize aquilo que nenhum português quereria: o adeus prematuro à competição.
O curioso foi que Hugo Almeida – quem primeiro falou no assunto – veio dizer que o Manuel da Costa teria ouvido que belgas e holandeses iriam dar-se por contentes com o… 0-0.
Mas Hugo Almeida, meio titubeante, ainda acrescentou: “Foi ele que disse, eu não sei, ouvi dizer… não sei.”
2.º Acto – Ontem à noite pudemos assistir a um verdadeiro jogo de futebol, aquele que foi disputado entre Inglaterra e Itália. 2-2 foi o resultado final numa partida da qual as estatísticas nos deram o impressionante número de… 45 remates que levavam o caminho das balizas. Não foram pontapés para as núvens nem a rasar a bandeirola de canto. Iam bem encaminhadas para aqueles 7,32 metros entre os dois postes. Quatro entraram, outras foram defendidas pelos guarda-redes, ainda outras interceptadas por algum defensor.
45 remates à baliza (mesmo à baliza) dá um remate de… dois em dois minutos.
E o que aqueles jovens correram? E como correram.
Não à toa mas com um objectivo perfeitamente bem definido: atacar o último reduto adversário.
E quantas paragens contabilizámos?
Poucas, muito poucas.
Futebol… à inglesa. Mas os italianos não lhes ficaram a trás.
E, com o empate, a Itália corre o risco de não se apurar para a fase seguinte.
Apetece-me escrever aos responsáveis a pedir que não deixem os jovens italianos ficar de fora da prova. Em nome do (bom) futebol.
3.º Acto – (Começa com música, um tema dos Rádio Macau…)
“… já tentei mandar pintar o céu em tons de azul
P’ra ser original
Só depois notei que azul já ele é
Houve alguém que teve ideia igual”
Isto porque levantei-me a pensar em escrever este artigo mas, ao folhear A BOLA, vi que o engenheiro José Lello já disto falava na sua crónica semanal. E escreve a maior parte das coisas que eu quereria escrever. A começar pelo título: “Diz que é uma espécie de equipa”.
Exactamente.
Mas escreve mais. “O que seria deste grupo [de jogadores] se, além de mostruário de luxo do futuro, também fosse uma equipa!”
Nem mais.
Somam-se, de facto, neste grupo, o número de “estrelas” e “estrelinhas”, mas cadê a equipa? Onde está o jogo colectivo? Alguém lhes disse que o futebol é para ser jogado colectivamente? Sim? Então que parte não terão entendido?
Eu acho que as duas. Nem jogam, nem são um colectivo.
E lá estamos nós (aqui é impossível ser original) outra vez agarrados à calculadora.
Pergunto-me é… para quê? Mas não ficarei surpreendido se no derradeiro desafio Portugal fizer o que não fez nos dois primeiros. Cumprindo-se esta previsão, lá virá a vitória moral – à qual, confessemos, já estávamos a ficar desabituados.
E quem é que diz ao seleccionador que nestas provas, com este figurino, é fundamental ganhar o primeiro jogo? Qual quê? Até li, antes do jogo, que “um empate com a Bélgica até pode ser um resultado positivo”!...
Quem foi que disse que jogando-se para o empate se corre o sério risco de se perder?
Sensata sentença.
Mas pronto! Preparemos a máquina de calcular.
Contudo, olhando para os “Critérios” de desempate cai-me o queixo e é com dificuldade que consigo voltar a fechar a boca.
Vejamos:
a) resultado do jogo entre ambos;
- Ok…
b) diferença de golos no jogo entre ambos;
- Esperem lá!... Se uma das equipas ganhou, está o caso resolvido. Se empataram… terão marcado os mesmos golos. Certo? Então?...
c) Número de golos marcados no jogo entre ambos;
- Mau!... sendo que, se a primeira alínea não desempatou, se passou então para a segunda, marcaram ou não os mesmos golos num resultado que teria que ser… um empate?
As outras alíneas já são coerentes, mas estas b) e c)… devem ser a tal pitada de comédia que há em todas as peças de tragédia.
A cena triste – Segundo o professor Rui Caçador, Portugal está a ser vítima dos “lobbies” nórdico e pan-germânicos. E com o senhor Marc Batta a nomear os árbitros… Portugal não tem hipóteses. Mas vai mais longe o prof. A equipa de arbitragem (os árbitro, sempre os árbitros) do Holanda-Portugal “não presta, não é séria nem competente”.
Ora aí está. E mais: “Estamos aqui no meio dos lobos…”
E termina o prof com mais uma revelação, terrível esta, e que pode ter decidido o afastamento da nossa Selecção dos quartos-de-final: “Depois há uma coisa terrível que são os blogs, alguns perfeitamente escabrosos, em que qualquer badameco nos pode insultar sem se identificar.”!
Antológica.
Os rapazinhos não correm, não jogam a bola e se calhar agora dá para entender.
Em vez de os estarem a treinar, os técnicos andam a ler… blogs.
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